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Angola é aliado importante "da paz dos EUA em África"

Lusa
6 de novembro de 2021

Quem o diz é a entidade que estuda assuntos de Angola (Cedesa) na sua análise "sobre as eleições de 2022 e os Estados Unidos da América", onde frisa ainda o papel de Angola para os EUA na sua estratégia face à China.

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João Lourenço, Angola Präsident
Foto: Getty Images/M. Spatari

A Cedesa, entidade que estuda assuntos de Angola, diz que o país se tornou "um aliado importante" dos EUA e que "um falhanço americano" nas relações com os angolanos seria "um falhanço global" da estratégia norte-americana face à China.

"A atitude dos EUA face a Angola sempre foi ambivalente, e não será agora que irá enveredar por um caminho de confronto, quando Angola se tornou um aliado importante, por dois motivos muito reais", começa por referir a Cedesa numa análise com o título: "Eleições angolanas de 2022 e os Estados Unidos da América".

Segundo aquele grupo de académicos, Angola tornou-se um importante aliado dos EUA, porque, sobretudo com a liderança de João Lourenço, o país "tem desempenhado um papel de pacificação na sua zona de influência". 

"Relembre-se que Angola ajudou a uma transmissão pacífica e eleitoral na República Democrática do Congo (RDC), tenta estabelecer alguma tranquilidade entre o triângulo RDC, Uganda e Ruanda, além de ter contribuído decisivamente para a recente paz na República Centro-Africana (RCA)", referem no documento. 

Os académicos da Cedesa recordam também que, na RCA, "o Presidente Touadéra destacou o papel fulcral desempenhado pelo Estado angolano na obtenção da paz". 

DR Kongo Besuch des angolanischen Präsidenten João Lourenço und des ruandischen Präsidenten Paul Kagamé in Kinshasa
João Lourenço (dir.) com homólogo congolês Felix TshisekediFoto: Presidence RDC

Assim, "Angola é um aliado da paz dos EUA em África e, obviamente, os americanos não vão desleixar o apoio e colaboração diplomática e militar de Angola para a tranquilidade africana", afirmam. 

Ao mesmo tempo, "é um forte baluarte contra qualquer penetração do terrorismo islâmico", acrescentam.

Mas para a Cedesa, há ainda um outro motivo pelo qual o país se tornou aliado dos EUA e que tem a ver também com a sua estratégia de política externa face à China. 

"É nítido que Angola segue atualmente uma nova política externa, pretendendo 'descolar-se' da excessiva dependência da China", salienta a análise.

"Ora, atendendo à sua experiência com a China de quem foi pioneira da intervenção em África e da tentativa atual de uma política estrangeira mais ocidental, Angola constitui uma plataforma experimental por excelência para a política dos EUA face à China, onde se testarão as verdadeiras implicações dessa política e até onde irá o empenho americano para contrabalançar a China", consideram os analistas no documento a que a Lusa teve acesso.

Angola Luanda Friedensabkommen zwischen Uganda und Ruanda
Presidentes do Uganda e do Ruanda assinaram, em Angola, em 2019, o Memorando de Entendimento de LuandaFoto: Presidency Rwanda

Por isso, concluem que "um falhanço americano com Angola será um falhanço global da sua aproximação estratégica à China". 

"Aqui, tal como na Guerra Fria em relação à União Soviética, se vai medir a realidade da ação americana relativamente à China", sustentam.

Para a Cedesa, o foco da estratégia dos EUA "foi colocado na China e no seu controlo e mais geralmente na Ásia".

"A concorrência estratégica" é o quadro através do qual os Estados Unidos veem a sua relação com a República Popular da China, referem no documento. 

"Os Estados Unidos abordarão a sua relação com a RPC a partir de uma posição de força", na qual trabalharão em estreita colaboração com os seus aliados e parceiros para defender os seus interesses e valores, recordam. 

Neste contexto, para a Cedesa, não há dúvidas sobre o que os EUA desejam de África: que "não lhes dê chatices e propicie alguns lucros económicos".

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No seguimento dessa estratégia, os EUA têm entregado uma boa parte da luta antiterrorista a França e contam que os países africanos garantam a estabilidade local, prosseguindo fortes alianças com alguns deles, indicam. 

E só se o interesse e a segurança nacionais norte-americanas forem afetadas pelo terrorismo islâmico, "os Estados Unidos intervirão fortemente".

"Não existe qualquer apetência dos EUA em se colocarem por dentro de qualquer imbróglio em África", lê-se no documento.

"Tudo ponderado não parece que a Administração Biden [do Presidente dos EUA] embarque em qualquer hostilização ou mudança em relação ao governo de João Lourenço, pois isso não corresponde aos interesses americanos face à África e mesmo em relação à China", concluem. 

Eleições angolanas e rumores sobre EUA

Pelo que, "todos os rumores noutro sentido, devem ser vistos como parte da luta interna angolana e não qualquer posicionamento musculado americano", considera.

Os rumores a que a Cedesa se refere são os de "um possível interesse acrescido dos Estados Unidos nas eleições angolanas", que poderiam levar a que a potência ocidental exigisse que o ato eleitoral no país africano tivesse observadores internacionais imparciais, que garantissem a verdade eleitoral. Além da "ameaça de possíveis sanções ao governo de João Lourenço se não acatasse essas recomendações americanas". 

"Em concreto, anuncia-se que a Administração Biden tem estado a ameaçar com a aplicação de sanções financeiras, restrições de vistos e proibições de viagens contra governantes que prejudiquem as eleições nos seus países. Daí extrapola-se que estará a fazer o mesmo em relação a Angola", menciona ainda a Cedesa na análise.

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