Angola é um mercado estratégico para os vinhos portugueses
27 de março de 2013O simples gesto de se abrir uma garrafa de vinho português é aquilo que alguns dos produtores de vinho lusos quer que seja cada vez mais frequente em Angola. O mercado do país africano é desejado por várias empresas em Portugal e o setor do vinho não escapa a essa tendência.
O presidente da ViniPortugal, Jorge Monteiro, diz à DW África que Angola é, nos dias que correm, o país africano com o maior consumo 'per capita' e os vinhos portugueses assumem já “uma boa posição”.
“Portugal tem a liderança do mercado dos vinhos engarrafados em Angola, mas há também muito vinho a granel proveniente da África do Sul. O desenvolvimento de Angola cria condições para procurarmos uma maior valorização do produto e isso reflete-se nos resultados. Temos tido taxas médias anuais de crescimento sempre de dois dígitos”, detalha Jorge Monteiro.
As afinidades linguísticas e culturais facilitam as relações comerciais e a entrada no mercado angolano. Porém, o presidente da ViniPortugal diz que ainda existem algumas dificuldades.
“É um mercado em que o informal tem um peso muito grande e é ainda muito centrado em Angola. Estima-se que o consumo 'per capita' na capital seja o dobro da média do país. Porém, e a pouco e pouco, estamos a desenvolver ações em Lobito, Benguela, Huambo e Lubango”, explica o responsável.
A importância de estar perto do consumidor
Para que os vinhos portugueses sejam cada vez mais bem sucedidos é preciso seduzir quem realmente compra, ou seja, os próprios consumidores e, para isso, “é preciso estar junto deles”.
Jorge Monteiro afirma que a ViniPortugal faz a promoção da marca “Wines of Portugal” ou “Vinhos de Portugal”, no caso de Angola, que depois é complementada com “grandes provas anuais”, que no ano passado teve “grande adesão” em Luanda, “organização de festas” em zonas de restaurantes, de bares e da vida noturna da capital angolana, nas quais “predominam um público jovem e com poder de compra elevado”.
“Temos ações que contactam com o consumidor nos locais em que este passa os seus momentos de lazer e de descontração. Queremos que o vinho seja um elemento de convívio e social, sempre bebido com moderação”, adianta.
E o que dizem os produtores que exportam para Angola?
Rui Moreira, da Casa Angola, explica à DW África que este país representa 40% das exportações. Nos dias que correm, e fruto do crescimento económico do país africano, o responsável considera que a concorrência é “cada vez maior” e os vinhos portugueses competem com outros provenientes da África do Sul, do Chile, da Argentina e da Califórnia.
Mário Neves, do grupo Aliança/Bacalhôa, refere que, atualmente, há uma procura por vinhos de mais alta qualidade, algo “favorável” para os vinhos portugueses. Mas, por outro lado, o excesso de importações pode dificultar o negócio.
“As importações, não só de vinho, mas de outros produtos, têm crescido de tal maneira e as autoridades podem estar a tentar limitar um pouco a entrada de produtos em Angola, mas este é o único obstáculo que eu vejo”, salienta.
Uma presença duradoura no mercado e a existência de uma estrutura própria são dois aspetos que podem fazer a diferença em Angola, considera Diogo Melo e Castro, da empresa Herdade do Esporão.
“Investimos numa estrutura própria, com uma equipa de vendas, um responsável de negócios e quatro repositores. A nossa perspetiva é crescer e capturar todas as oportunidades de crescimento que o mercado oferece”, ressalva.
Diogo Melo e Castro adianta que para se ter sucesso no mercado angolano é “preciso estar próximo do consumidor”, perceber as suas necessidades e “ser mais ágil” na resposta às exigências do consumidor angolano, “cada vez mais conhecedor do mundo dos vinhos”.
A preferência pelo vinho tinto
E qual será o vinho preferido dos angolanos? Jorge Monteiro, da ViniPortugal, arrisca a dizer que é o vinho tinto. “Vinhos brancos não são hoje a grande preferência dos mercados de climas quentes. Tanto acontece em Angola como no Brasil”, afirma.
Para além de Angola, os Estados Unidos da América (EUA), mercado considerado “montra”, o Brasil, Canadá, China, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Noruega e Finlândia são os mercados estratégicos para os vinhos portugueses.
O plano de marketing para dar destaque aos vinhos lusos nestes mercados custa sete milhões de euros, dos quais 600 mil euros são destinados a Angola.