Angolanos querem imprensa regional independente do Estado
16 de novembro de 2018O jornal estatal quer refletir as realidades locais, nas diferentes províncias, que não encontram espaço no seu diário generalista. Mas o modelo de expansão seguido pelo Jornal de Angola está a ser alvo de críticas. Muitos angolanos consideram que o processo é igual ao da Rádio Nacional de Angola, cujas rádios, a nível municipal e regional, não visam reforçar a quantidade e a qualidade da informação, mas sim a presença do Estado, afirmam as vozes mais críticas.
Até ao momento, foram lançados dois títulos dos três previstos para as regiões centro e sul do país. Já estão nas bancas os jornais Planalto, que abarca as províncias do Huambo e Bié, e Ventos do Sul, que cobre as províncias da Huíla, Cunene, Namibe e Cuando Cubango. Está , ainda, na forja outro título para as províncias de Benguela e Kwanza Sul.
O novos títulos ocupam os espaços deixados por alguns periódicos regionais publicados nesta região, como o Semanário Cruzeiro do Sul, Chela Press e o Correio do Sul, que sucumbiram devido a dificuldades financeiras e falta à de incentivos estatais.
"Existem muitos tabus"
O ativista cívico José Domingos, do Conselho das Organizações da Sociedade Civil, do Huambo, considera que os novos jornais são uma iniciativa louvável. No entanto, critica o trabalho feito até agora pelo Planalto, dedicado ao Huambo e ao Bié.
"Ainda não reflete as nossas expetativas, porque temos estado a notar que exalta mais figuras governamentais do que a verdadeira realidade social. Há problemas sérios no Huambo e Bié, mas estas questões não são tratadas ainda neste jornal", afirma o ativista, em entrevista à DW África.
Para Bento Gungui, professor do ensino primário no Huambo, o surgimento do Planalto é uma mais valia para a informação e educação dos cidadãos. O docente espera que o lançamento deste jornal seja acompanhado pelos incentivos que devem ser dados pelo Estado às iniciativas privadas neste setor.
"Talvez com esta abertura do jornal Planalto, vamos começar, a notar alguma melhoria, mas falando propriamente do incentivo que o Estado devia dar para o surgimento de canais privados, pensamos que ainda não há nada que possa ser visto no fundo do túnel".
Opinião unânime: "Imprensa local precisa-se"
Já para Lucélia dos Santos, também professora do ensino primário no município do Ucuma, no Huambo, a divulgação de informações locais através de rádios comunitárias e outros meios de comunicação social é indispensável no atual contexto angolano, em que o país caminha para a abertura democrática.
A professora diz que "a informação local é ainda muito fechada". Por isso, "se houvesse mais abertura neste campo, creio que seria uma mais valia para as comuindades rurais, porque elas estariam informadas e saberiam um pouquinho mais daquilo que acontece na nossa terra", afirma Lucélia.
Memória Ekolica, coordenador da organização não governamental Horizonte Media de Angola, que se dedica à promoção do pluralismo nos meios de comunicação social, considera que o Estado angolano deveria estender a mão às iniciativas privadas nas províncias.
"O Estado habituou as pessoas a ouvirem falar só de si, portanto do Estado. O Estado afungentou as pessoas singulares a entrarem para a área de comunicação durante estes 43 anos de independência. O Estado, que afungenta as próprias pessoas quando precisa, tem que criar políticas para buscá-las e lhes dar coragem para participar [na comunicação social]", apela o coordenador.