Antes de presidencial na Libéria, cresce oposição contra presidente
10 de outubro de 2011Em 2005, a eleição de Ellen Johnson-Sirleaf, 72, para primeira presidente de um país africano, despertou muitas esperanças de um futuro melhor para a Libéria. E a política conseguiu bastante no primeiro termo da sua presidência. O seu maior mérito foi a unificação do país após 14 anos de guerras civis, terminadas em 2003. A reconciliação nacional foi um dos motivos pelos quais Johnson-Sirleaf recebeu na passada sexta-feira (07.10) o Prêmio Nobel da Paz 2011, que divide com a também liberiana Leymah Gbowee e com a jornalista iemenita Tawakkol Karman.
Neste domingo (09.10), último dia de campanha eleitoral na Libéria, Leymah Gobwee, recém-chegada do Gana, onde mora, exortou os cerca de 1,8 milhões de eleitores liberianos a não recorrerem à violência durante a votação de terça-feira (11.10), oito anos após o fim de dois conflitos civis que causaram a morte de 250 mil pessoas e centenas de milhares de feridos. Gobwee se declarou abertamente a favor da presidente cessante.
Mas a oposição à presidente Johnson-Sirleaf cresce na Libéria, onde acontece a segunda votação presidencial desde 2003. Na capital liberiana Monróvia, Jeremia Blake – que tem cerca de 40 anos e um diploma universitário – explica que "não queremos que Ellen Johnson-Sirleaf continue a ser presidente. Os liberianos vivem na pobreza. Quando ela foi eleita, em 2005, disse à comunidade internacional e ao povo liberiano que a corrupção era o inimigo público número um. Mas hoje ela e a corrupção são excelentes amigos", indigna-se o cidadão.
Segundo a agência noticiosa Afp, Ellen Johnson-Sirleaf é mais apreciada internacionalmente que na Libéria, cuja reconstrução ela tentou concretizar com o apoio de doadores internacionais. Por outro lado, a presidente cessante não estaria conseguindo se livrar das críticas sobre o apoio financeiro que ela deu, no início dos anos 1990, à revolta de Charles Taylor (presidente entre 1997 e 2003) contra o regime de Samuel Doe. Charles Taylor chegou a ser condenado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade cometidos durante o seu governo.
País mais corrupto do mundo
Johnson-Sirleaf não conseguiu cumprir a promessa de eliminar a corrupção nos cinco anos de mandato. Pelo contrário: no ano passado, o índice global de percepção da corrupção da organização Transparência Internacional qualificou a Libéria de país mais corrupto do mundo.
Algo que os liberianos como Jeremia Blake lhe levam a mal. A verdade é que a presidente fez muito pelo seu país, que conseguiu unir apesar dos 14 anos de guerra civil. A ex-diretora do Banco Mundial obteve o perdão da dívida de quatro mil milhões de dólares para a Libéria. E atraiu investidores para o país rico em matérias-primas.
Desemprego cria "situação explosiva no país"
O principal concorrente entre os 15 que Ellen Johnson-Sirleaf enfrenta na corrida à presidência é Winston Tubman, 70, um antigo diplomata das Nações Unidas e que dirige o maior partido da oposição, o Congresso para a Mudança Democrática (CDC). A campanha de Winston Tubman também é apoiada pela formação partidária de Taylor, o Partido Patriótico Nacional, que apoiou Johnson-Sirleaf em 2005.
O vice dentro do partido CDC é a ex-estrela do futebol George Weah, que perdeu contra Johnson-Sirleaf em 2005. O CDC vive da fama de Weah, diz Rudolf Elbing, conselheiro técnico da Comissão Eleitoral da Libéria. Ele acrescenta que ninguém parece ter um programa eleitoral: "É uma campanha tipicamente africana. Os temas são secundários. É mais uma questão de indivíduos, de personalidades fortes, que procuram motivar os eleitores com as suas mensagens pessoais", avalia.
O maior problema atual no país é o elevado desemprego, de mais de 80%. Desempregados como George Seke avisam que a situação é explosiva: "Este governo foi eleito porque prometeu criar emprego. Mas nós não temos trabalho. E quando roubamos, abatem-nos a tiro. Matam-te quando tentas sobreviver", descreve.
George Seke sabe do que fala. Há três anos que passa os dias a escavar a costa do Atlântico à procura de alumínio ou aço que possa vender. O que encontra não chega para alimentar a família: "O governo não cumpriu promessas. Acabou-se o tempo, este governo fracassou. Agora o que queremos é que nos paguem para votarmos neles. Estou recenseado e dou o meu voto ao partido que me der dinheiro para eu me poder estabelecer por conta própria", afirma.
Autoras: Stefanie Duckstein / Cristina Krippahl / Renate Krieger (com agências AFP / Reuters)
Edição: António Rocha