Antes de terminar, "crise em Angola vai piorar"
20 de maio de 2016Organizado pela Associação OMUNGA, o debate “Causas e Reflexos da Atual Crise Económica e Financeira de Angola” contou com a presença do professor e economista Carlos Rosado de Carvalho como principal orador.
Falando para uma plateia de mais de 100 convidados de diferentes áreas, o professor da Universidade Católica de Angola apontou a forte dependência do petróleo como a principal causa da vulnerabilidade da economia angolana. “O único produto que nós exportamos é o petróleo. Portanto, a única forma que existe de arranjar divisas é exportar produtos angolanos”, afirmou o Rosado de Carvalho.
"Não há milagres nessa altura na economia"
Para explicar o impacto desta dependência e da falta de diversidade da economia, o economista comparou a economia angolana a uma casa onde todos os membros da família trabalham na mesma empresa. “Se, numa casa, o homem e a mulher trabalham no mesmo sítio e depois os filhos vão também trabalhar para a mesma empresa, se ela fechar, fica tudo na miséria. É o nosso caso. Nós trabalhavamos no petróleo, o petróleo foi à falência e ficámos todos sem dinheiro”, exemplificou.
A crise do petróleo e a desvalorização do kwanza face ao dólar norte-americano, aliadas à forte dependência da importação de produtos básicos, como alimentos, criaram as condições necessárias para o empobrecimento dos angolanos e para o encarecimento dos produtos.
A falta de divisas levou à redução das importações e, por isso, vários produtos começaram a faltar no país. Os bancos nacionais entraram em 2016 praticamente sem injeção de divisas pelo Banco Nacional de Angola, uma situação que poderá inflacionar ainda mais o mercado de câmbio. “A única coisa que podemos fazer agora é rezar para que o petróleo suba. É a única coisa que nós podemos fazer. Não há milagres nesta altura na economia”, afirmou Rosado de Carvalho.
Crise económica irá piorar antes de melhorar
O economista prevê que a economia angolana ainda demore cerca de dois a três anos a recuperar do impacto negativo da queda do preço do petróleo. Problemas que, segundo Carlos Rosado de Carvalho, se podem acentuar com o aproximar das eleições de 2017.
“Antes de isto terminar vai piorar. Temos um problema que são as eleições de 2017, e ninguém seja aqui, seja noutra parte do mundo, gosta de perder eleições”, afirmou o professor. “Eu temo que, estando à beira do abismo, as eleições façam com que nós nos aproximemos mais dele, porque as medidas que são necessárias não são muito populares. Embora, sob esse ponto de vista, nada do que o Governo tem feito ultimamente é muito popular.”
A forte queda do preço do petróleo levou o Governo angolano a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Este é o segundo programa de assistência financeira que o país pede num espaço de sete anos. O pedido oficial do resgate financeiro aconteceu em abril e espera-se que uma equipa do FMI chegue a Luanda a 1 de junho.