Crises africanas devem ser resolvidas por líderes africanos
20 de fevereiro de 2018A Organização Nações Unidas (ONU) vai continuar a apoiar as organizações regionais e sub-regionais, como a União Africana (UA) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para que seja encontrada uma solução definitiva e duradoura que ponha fim à crise política que dura desde 2015 na Guiné-Bissau, assegura António Guterres.
"Sou um grande defensor da liderança africana para resolver os problemas africanos e entendo que as Nações Unidas devem ser um foco de apoio às iniciativas africanas e é assim que vemos a ação da CEDEAO na Guiné-Bissau", afirmou o secretário-geral da ONU quando questionado pela DW África, em conferência de imprensa, se as Nações Unidas iriam assumir uma posição mais firme que evite o arrastamento da crise política na Guiné-Bissau, depois das sanções aplicadas pela CEDEAO a figuras da classe política guineense, apontadas como responsáveis pela obstrução à solução do impasse.
"Temos uma visão clara de parceria com as instituições africanas. Temos com a União Africana uma relação de enorme cooperação e estamos a fazer o mesmo com as organizações sub-regionais como a CEDEAO", realçou o antigo primeiro-ministro português, queassumiu a liderança da ONU em 2017.
De acordo com a ONU, o prolongamento do diferendo político na Guiné-Bissau requer uma presença internacional contínua de apoio aos esforços dos líderes guineenses, visando a nomeação de um primeiro-ministro "aceitável", a criação de um Governo inclusivo, a organização de eleições - legislativas em 2018 e presidenciais em 2019 - e a implementação de reformas prioritárias abrangendo a administração pública, justiça, defesa e segurança, conforme estipulado no Acordo de Conacri.
Cumprimento do Acordo de Conacri
Há dias, reagindo a tais sanções, o Governo português, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou que a decisão de aprovar sanções e a lista de personalidades "é uma decisão da CEDEAO", visto que Portugal não é membro da CEDEAO.
"Em relação ao processo político guineense, continuamos a pensar que a solução para os problemas que estão à vista de todos é o cumprimento do Acordo de Conacri, o que implica a formação de um governo consensual encarregado, entre outras coisas, de preparar as próximas eleições", declarou o chefe da diplomacia lusa.
Portugal espera que haja consenso entre os partidos políticos para que o calendário eleitoral possa ser respeitado, disse Santos Silva aos jornalistas.
Paz em Moçambique
Na conferência de imprensa que António Guterres concedeu esta segunda-feira (19.02), a DW África também indagou o secretário-geral sobre os avanços para a consolidação da paz em Moçambique, à luz do entendimento já alcançado entre o Governo da FRELIMO, no poder, e a RENAMO, principal partido da oposição.
A resposta do secretário-geral da ONU é de otimismo: "Espero que Moçambique possa finalmente encontrar a paz a que tem direito, a que o povo moçambicano tem direito, para que todas as dificuldades económicas que o país atravessa possam ser enfrentadas de uma forma positiva e para que a qualidade de vida que os moçambicanos merecem se possa concretizar."
António Guterres falou à imprensa nacional e estrangeira à margem da cerimónia da sua distinção com o grau de doutoramento honoris causa, atribuído pela Universidade de Lisboa, por intermédio do Instituto Superior Técnico, onde foi aluno de engenharia.
No seu discurso, o líder da ONU sublinhou que o desafio central do nosso tempo é a questão das alterações climáticas, que "representam hoje a maior ameaça para os povos e para o planeta." Guterres disse que falta aos países ambição suficiente para aplicar os Acordos de Paris sobre o clima, que, como referiu, não são, por si só, suficientes face à dimensão dos problemas e às consequências drásticas do aquecimento global.
Além do primeiro-ministro português, António Costa, também presenciou a atribuição do referido título académico a António Guterres o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que esta terça-feira (20.02) inicia uma visita de Estado de dois dias a São Tomé e Príncipe.