Aposta em energias renováveis pode ser alternativa em África, dizem especialistas
4 de julho de 2012Os dados são recentes, mas deixam já antever um grande potencial de aproveitamento dos recursos renováveis em vários países africanos. Quem o diz é o director do Centro de Inovação e Tecnologia da IRENA, Agência Internacional de Energia Renovável. Dorf Gielen é apenas um dos muitos especialistas que estiveram em Bona durante esta semana, para participar na conferência organizada pela Associação Mundial de Energia Eólica e pela sua congénere alemã.
40 sessões, 200 apresentações e especialistas de 50 países centraram-se durante 3 dias na utilização da energia eólica. A certeza, entre organizadores e participantes, é de que está a acontecer uma transformação no sistema de energia, a nível mundial.
Na terca-feira, à margem da abertura do evento, o director do Centro de Inovação e Tecnologia da IRENA falou à DW sobre Moçambique e Angola: dois dos países africanos que apresentam condições para apostar em energias limpas.
Em Angola e Moçambique dão-se os primeiros passos
De acordo com Dorf Gielen, a agência terminou recentemente “um estudo sobre a capacidade de Mocambique aproveitar os seus recursos renováveis”, tendo descoberto que “o país está agora a começar a mapear o seu potencial de recursos eólicos”. O relatório revela que determinadas áreas de Moçambique apresentam um “potencial interessante”, nas palavras do responsável.
Dorf Gielen considera ainda que “tanto Moçambique como Angola foram abençoados com um enorme potencial de energia hidroeléctrica, que é uma energia muito barata”. E acrescenta: “Deve dar-se prioridade à promoção de grandes projectos deste tipo de energia e isso pode ser depois complementado com a eólica, biomassa, ou até mesmo energia geotérmica, no caso de Moçambique.”
Energia renovável é opção em África mas encontra dificuldades
Este ano, a conferência mundial de energia eólica foi dedicada ao poder das comunidades. Os recursos renováveis, na opinião de Dorf Gielen, representam mesmo uma alternativa única num continente onde nem toda a população tem acesso a energia: “O que acontece, por exemplo, em África, é que as infra estruturas centralizadas e os governos não são capazes de fornecer energia suficiente às comunidades locais. E a energia renovável, com os seus projectos relativamente pequenos, oferece, por isso, uma oportunidade especial de levar energia a estas comunidades”, explica o especialista.
Uma oportunidade que, ainda assim, encontra alguns obstáculos pelo caminho: “Por exemplo, no Quênia, há já algum tempo, estão a tentar construir um grande parque eólico. E os desafios, aí, estão muito relacionados com as infra estruturas”, exemplifica, acrescentando que “não há estradas para levar as turbinas eólicas para as zonas com as melhores condições de vento e não há ligação à rede”.
Investimento nas energias limpas não pode vir apenas do exterior
Dorf Gielen questiona-se: “quem é que vai pagar estas infra estruturas, que aumentam consideravelmente o custo total do projecto?”
No caso dos países africanos que estão a procurar apostar na energia renovável, de acordo com o director do Centro de Inovação e Tecnologia da IRENA, o apoio internacional é necessário, mas não deve ser exclusivo: “As opiniões dividem-se quanto a um modelo de desenvolvimento puramente baseado em ajuda externa. A grande prioridade deve ser criar as políticas certas. Os investimentos e o conhecimento seguir-se-ão”. Ainda assim, diz o especialista, “claro que a cooperação internacional pode ajudar a acelerar este processo e estamos a tentar envolver-nos nisso”.
Autora: Maria João Pinto
Edição: António Rocha