Aposta no mercado dos livros em português enfrenta problemas com a língua
Há cada vez mais portugueses espalhados pelo mundo, assim como tem crescido o interesse dos países emergentes, como Angola e Moçambique, nos livros de língua portuguesa, o que poderia ser um pretexto para uma maior aposta na exportação.
Benjamin Meisnitzer, da Dinalivro, que tem clientes em países africanos de expressão portuguesa salienta que o mercado tem limitações numerosas.
"Apesarem de serem países emergentes em alguns setores económicos, como Angola e Moçambique, têm graves problemas financeiros noutros setores. Mesmo quando se discutiu este ano a sucessão do Simpósio Mundial de Língua Portuguesa, várias vozes defendiam que seria interessante realizá-lo em África. Acabou por não se optar por África, porque as próprias universidades não tinham meios para organizar um evento deste tamanho", lamenta o luso-alemão.
Livrarias e livreiros em crise
A crise não passou ao largo da indústria livreira de Portugal e estima-se que tenham encerrado 10% das livrarias e editoras no país desde o início da crise, segundo informação da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
Também a presença portuguesa na Feira Internacional do Livro em Frankfurt, na Alemanha, que decorre até domingo (13.10) sofreu um recuo no número de expositores. Dos portugueses que marcaram presença no certame, muitos reduziram a sua estadia a dois dias, em vez dos cinco dias que marcam a duração da feira.
A situação dos livros de Portugal noutro mercado emergente, o Brasil, não é melhor, dada a insistência brasileira numa versão dita em português do Brasil. Benjamin Meisnitzer, que para além de editor é docente de linguística na Universidade de Munique, no Sul da Alemanha, diz que este fenómeno não se verifica nos espaços linguísticos francês, alemão ou inglês.
"Vemos as dificuldades com a implementação do acordo ortográfico... Não foi um processo pacifico", recorda. "Por um lado, temos Portugal, o país de onde a língua partiu para o mundo; por outro lado, se formos realistas do ponto de vista económico, do poder internacional e da capacidade de atração de estudantes de português como língua estrangeira, o centro do mundo lusófono é o Brasil", analisa o luso-alemão.
Variações na língua afetam expansão
Para além destas circunstâncias inéditas no mundo serem encaradas como um fator curioso na investigação académica, Benjamin Meisnitzer salienta que estas têm efeitos negativos graves na língua.
"Observamos essa situação atualmente em Timor, onde os materiais didáticos vêm do Brasil e de Portugal, os professores também, o que está a criar uma situação em que o português não está a ter o impacto que se esperava. Esta descoordenação é um entrave para a expansão da língua portuguesa", conta o editor da Dinalivro.
A relutância em mudar e adaptar-se às realidades modernas está patente também na falta de aposta no mercado do livro eletrónico. Apesar de este ser um meio criado para superar igualmente dificuldades de transporte e distribuição, cujos custos aumentaram muito nos últimos anos, não tem havido investimento neste setor.
Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da APEL, diz que a procura, por enquanto não justifica o esforço por parte dos editores.
"Admito que uma oferta maior possa encontrar uma procura maior. Mas está no fundo a verificar-se o inverso. Não sendo a procura muita, estando os editores atentos a esse fenómeno, ainda não se verificou a aposta que se verifica noutros países", comenta Bruno Pires Pacheco.
Por outro lado, os editores portugueses presentes no certame em Frankfurt apontam para os investimentos avultados na digitalização dos livros como um impedimento para uma maior aposta neste meio, a par do receio da pirataria.