Costa do Marfim: líder da oposição é acusado de conspiração
27 de dezembro de 2019A Procuradoria-Geral da Costa do Marfim divulgou uma gravação na qual o ex-primeiro ministro e candidato à Presidência, Guillaume Soro, estaria a planear um suposto golpe de Estado.
O áudio foi coletado pelos serviços de inteligência do país e divulgado pelo procurador-geral Richard Adou em conferência de imprensa nesta quinta-feira (26.12).
"Os elementos reunidos por nossos serviços de inteligência incluem uma gravação de áudio que divulgo agora aos senhores. Elas provam claramente que esse plano [de golpe de Estado] seria executado em breve", garantiu Adou.
A divulgação do áudio gerou tensão e deve afetar o meio político a 10 meses das eleições presidenciais. O pleito é visto como um teste para a estabilidade marfinense após duas guerras civis.
Segundo o procurador, "a pena por tentar conspirar contra a segurança do Estado é a prisão perpétua". Adou acrescentou que a investigação já levou 15 pessoas à prisão, suspeitas de lavagem de dinheiro e porte ilegal de armas.
Gravação antiga
A advogada e porta-voz de Soro não negou a autenticidade da gravação apresentada pelos promotores. Entretanto, Affoussy Bamba Lamine enfatizou que se trata de uma gravação antiga.
"Esta gravação de áudio é desconcertante. Insisto e aponto que a gravação foi feita em 2017. Por que divulgá-la agora, três anos após os fatos? E por que a gravação está incompleta?", questionou.
Num vídeo divulgado na rede social Facebook, a advogada disse que a equipe de Soro publicará a versão completa do áudio.
Na última segunda-feira (23.12), as autoridades da Costa do Marfim emitiram um mandado de prisão contra Soro, obrigando o líder oposicionista a cancelar o retorno planeado para sua casa depois de meses no exterior.
O voo foi desviado após forças de segurança invadirem a sede do seu partido em Abidjan. Acredita-se que Soro esteja na Europa. Ele classificou o caso como um episódio com "motivação política".
Antigo aliado
Em 2002, Guillaume Soro liderou forças rebeldes contra o então Presidente Laurent Gbagbo. Após uma sangrenta guerra civil de curta duração, os rebeldes apoiaram o Presidente Alassane Ouattara nas eleições de 2010, na qual Gbagbo e Ouattara reivindicaram a vitória.
Soro ajudou a conduzir Ouattara ao poder durante a crise pós-eleitoral de 2010 e 2011. A ruptura entre os dois ocorreu no início de 2019. Aos 47 anos, Guillaume Soro é considerado um forte concorrente para atual Presidente nas eleições de outubro.
Quase dez anos após a crise de 2010 e 2011, que deixou 3 mil mortos na Costa do Marfim, a próxima eleição presidencial deve ser tensa. As eleições municipais e regionais de 2018 foram marcadas por inúmeros episódios de violência e fraude.