Aquecimento global: Caminhamos para o fim da agricultura tradicional?
No Corno de África, países como a Eritreia estão a registar padrões meteorológicos cada vez mais irregulares, colocando em causa a subsistência dos agricultores.
Agricultura: um modo de vida
As alterações climáticas têm um impacto irreversível nas comunidades que dependem do ambiente natural para as necessidades básicas. Na Eritreia, estima-se que cerca de 80% da população são agricultores de subsistência, que cultivam principalmente sorgo, trigo e milho. Esses agricultores são vulneráveis a mudanças nos padrões climáticos, que podem devastar a produção de alimentos.
Colher fora de horas
Durante os últimos anos, a Eritreia, tal como o resto do Sudeste Africano, sofreu flutuações climáticas exacerbadas pela tendência de aquecimento dos oceanos, o chamado "El Niño". As chuvas caíram, inesperadamente, na Eritreia, em outubro do ano passado, o que levou o governo a aconselhar os agricultores a colherem mais cedo.
Stock de alimentação vulnerável
"Se não tivessem reagido, ou não tivessem reagido com base na colheita tradicional, provavelmente perderiam a colheita", diz Peter Smerdon, do Programa Mundial de Alimentos. Embora o "El Niño" seja um evento complexo e de ocorrência natural, pesquisas científicas sugerem que o aquecimento global fará com que este evento cíclico ocorra com mais frequência e intensidade.
Consenso sobre as alterações climáticas
A maioria das comunidades científicas concorda que mudanças significativas a longo prazo no sistema climático da Terra ocorreram e estão ainda a ocorrer de forma mais célere que no passado. Prevê-se que a continuação das emissões para a atmosfera terrestre provoquem um maior aquecimento, afetando África com temperaturas elevadas e aumentando a variabilidade sazonal das chuvas.
Consequências económicas globais
"As pessoas nos países mais ricos devem estar preocupadas com os efeitos da mudança climática no Corno de África", afirma Challiss McDonough, do Programa Alimentar Mundial. "A mudança climática é uma das principais causas da fome global, perdendo apenas para os países doadores. Por isso, investir no clima e na redução do risco de desastres faz sentido do ponto de vista económico".
Ainda de pé
A árvore de sicómoro tem um simbolismo significativo na Eritreia. Os anciãos costumavam reunir-se debaixo destas enormes árvores centenárias, para discutir questões importantes e leis comunitárias. Muitas destas árvores foram derrubadas durante a colonização e a guerra. As que ainda restam têm de enfrentar os efeitos da mudança climática.
Praias ameaçadas
"Um dos impactos das mudanças climáticas numa região costeira é a elevação do nível do mar, que aumenta a probabilidade de desastres relacionados com inundações, como marés altas, que podem eliminar uma safra inteira", diz Smerdon. Além disso, acrescenta, "a intrusão de água salgada devido à mudança climática pode aumentar a erosão e a salinidade dos solos, prejudicando a fertilidade da terra."
Corais em perigo
A costa deslumbrante da Eritreia inclui recifes de coral, um fator potencial de turismo, se sobreviverem no estado actual. "Até há alguns anos atrás, este pedaço de mar estava cheio de corais, mas no ano passado morreram todos", revela um mergulhador da Eritreia à DW. "A temperatura do mar estava muito alta. Ao mesmo tempo, os pescadores dependem dos recursos do oceano para comércio.
À procura de um caminho
As alterações climáticas na Eritreia são evidentes noutros locais. "Enquanto trabalhava na América Central, na África Oriental e no Médio Oriente, falei sempre com pessoas mais velhas, especialmente agricultores, e a mensagem deles é comum", diz Sam Wood, da Save the Children na Etiópia. "Os padrões climáticos estão a tornar-se menos previsíveis e, quando vem a chuva, é muito ou muito pouco."