Argélia: Eleições não prometem grandes mudanças políticas
6 de setembro de 2024"Não há dúvida de que o atual Presidente Abdelmadjid Tebboune vai ser reeleito enquanto os militares continuarem satisfeitos com ele. Porque o poder na Argélia tem estado sempre nas mãos dos militares", afirma o investigador Hafed Al-Ghwell, da Universidade Johns Hopkins com sede em Washington.
O facto de não haver uma verdadeira oposição no país é outro forte indicador de que o atual Presidente será reeleito para um segundo mandato de cinco anos, defende o investigador.
Os países árabes em geral, ou os presidentes árabes, perceberam que a melhor maneira de se manterem no poder é através de eleições. Portanto, basicamente, vai ser mais ou menos um referendo sobre o presidente com resultados pré-determinados.
Quem são os candidatos?
Apenas 16 dos 34 candidatos iniciais submeteram as suas candidaturas. Desses, apenas dois continuam na corrida para desafiar Tebboune, de 79 anos: Youcef Aouchiche, de 41 anos, da Frente das Forças Socialistas, e Abdellah Hassan Cherif, de 57 anos, do partido islamista Movimento para a Sociedade e Paz.
No entanto, os programas políticos dos três candidatos são bastante semelhantes, diz o analista político Zine Labidine Ghebouli
Os três diferentes candidatos estão a concentrar-se principalmente nos aspetos económicos dos atuais desafios que a Argélia enfrenta, como vias para alcançar a diversificação económica e para capacitar jovens empreendedores e atores económicos privados.
A economia da Argélia é largamente impulsionada pelas exportações de gás. A inflação no país ronda atualmente os 9% e, embora a Argélia não publique números oficiais desde 2019, a Organização Internacional do Trabalho sugere que a taxa de desemprego seja de 12%.
Maria Josua, investigadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), sublinha que "os problemas que levaram a protestos em massa e à queda do anterior Presidente continuam a existir e até se agravaram”.
Estados autoritários que ignoram os interesses da população são apenas aparentemente estáveis e não conseguem resolver os problemas dos seus cidadãos a longo prazo. Por isso, o maior problema é o próprio Presidente: o desafio para o vencedor das eleições é governar sem legitimidade e a confiança do povo”.
O pesquisador Al-Ghwell não acredita que haverá grande afluência às urnas, dada a previsibilidade do resultado. No entanto, para o atual chefe de Estado, a participação será importante, pois já era baixa quando foi eleito em 2019, com menos de 40% dos votos .