As manifestações que o Governo angolano não consegue evitar
28 de julho de 2015O angolano Zé da Rocha vive em Berlim, na Alemanha, desde 1985. Diz que um dia espera voltar a Angola, para aí viver "tranquilamente e em harmonia". Esse foi um dos motivos que o levou a organizar o protesto na capital alemã. "Acredito numa mudança pacífica, por isso vou para a rua", diz o angolano, que defende que é preciso agir para que haja melhorias no país.
Os angolanos em protesto na capital alemã também pretendem escrever uma carta ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, "a exigir a libertação incondicional de todos os jovens que estão presos".
Além de Berlim, juntam-se às manifestações de solidariedade com os 16 ativistas detidos desde 20 de junho outras três cidades europeias: Lisboa, Londres e Bruxelas. O epicentro das manifestações será a capital angolana, Luanda. No Uíge também está previsto um evento semelhante.
Depois da primeira manifestação em Lisboa (17.07), o grupo que a organizou quis continuar e convergiu para um grupo maior. Estima-se que o número de apoiantes para a manifestação desta quarta-feira, no Rossio, aumente consideravelmente. Margarida Lima, uma das impulsionadoras do protesto em Portugal, considera que esta onda de solidariedade que se tem vindo a alastar "também é um reflexo direto da falta de respostas do Governo angolano."
Luanda, epicentro dos protestos
Em Luanda, os organizadores receiam que o protesto seja reprimido pela polícia. "Queremos acreditar que vai tudo correr bem porque cumprimos com os trâmites legais. Mas infelizmente, como ocorreu em 2011, não nos supreendemos se as autoridades angolanas reprimirem e abafarem a nossa manifestação mais uma vez", declara o ativista Pedro Teca, um dos organizadores.
Teca, que já foi ameaçado inúmeras vezes, confessa que teme pela sua segurança. "Temos recebido ameaças constantes. Pessoas ligadas ao regime apareceram em nossas casas, intimidaram as pessoas. Não me sinto seguro. Temo pela minha vida, pela minha segurança, mas é algo que tenho de lidar e ter coragem e força se queremos lutar contra esta arbitrariedade, estas prisões com motivações políticas que têm acontecido", relata o jovem ativista.
O silêncio do Estado português
A diretora executiva da secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI), Teresa Pina, relembra ao Estado português que, como representante do conselho dos direitos humanos da ONU, deve sair do silêncio e pronunciar-se sobre este caso. "O Estado português pode fazê-lo no âmbito da relação diplomática que tem com Angola", afirma.
A expectativa da AI, que vai estar presente na manifestação em Lisboa, "é que o Estado Português se faça ouvir sobre estas matérias, nomeadamente a liberdade de expressão em Angola, precisamente porque ocupa este palco mais privilegiado em matéria dos direitos humanos que é no Conselho de Direitos Humanos da ONU."
Teresa Pina lembra ainda que "o Estado angolano deve parar de violar os direitos humanos, uma vez que estes direitos estão consagrados na Constituição angolana".