As promessas da cimeira anticorrupção em Londres
13 de maio de 2016"A corrupção é o cancro na origem de tantos problemas que devemos combater no mundo. Se queremos ver os países a escaparem da pobreza e a prosperarem, precisamos de a combater", afirmou, esta quinta-feira (12.05) o primeiro-ministro britânico, David Cameron, durante a cimeira anticorrupção em Londres.
O encontro teve lugar depois das revelações dos "Panama Papers", mais de 11 milhões de documentos do escritório de advogados Mossack Fonseca que provam a criação de milhares de empresas opacas em paraísos fiscais. O escândalo coloca particularmente em causa os paraísos fiscais em territórios britânicos, que correspondem a um terço dos paraísos fiscais em todo o mundo.
Na capital do Reino Unido, o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, pediu o retorno de recursos desviados do país e que são mantidos em bancos britânicos. Segundo Buhari, roubos ligados ao negócio do petróleo causam, todos os anos, prejuízos de 7 mil milhões de dólares. "Infelizmente, a comunidade internacional está há muito tempo a virar as costas ao combate à corrupção", disse Buhari aos participantes da cimeira. "Temos de intensificar a batalha contra esse demónio. É por isso que estamos aqui hoje."
No dia anterior, esquecendo-se de que estava a ser filmado, Cameron foi apanhado numa conversa com a rainha Isabel II a classificar o Afeganistão e a Nigéria como países "fantasticamente corruptos".
Responsabilidade do Ocidente
"Parte da solução do problema não é haver apenas um foco na Nigéria, mas ver como o Ocidente facilita a corrupção no continente africano", comenta Rosie Sharpe, do grupo anticorrupção Global Witness.
"O dinheiro desviado da Nigéria é geralmente lavado em empresas-fantasma em territórios britânicos, nas Ilhas Virgens Britânicas e nas Ilhas Caimão. Esse dinheiro sujo é usado para comprar grandes mansões em áreas caras de Londres.
Cameron anunciou novas iniciativas anticorrupção no Reino Unido. Entre elas, a responsabilização de empresas que tiverem funcionários envolvidos em lavagem de dinheiro, um acordo de partilha de dados e a criação de uma lei que obriga empresas com propriedades no país a revelar quem as controla. Um dos principais avanços da cimeira de quinta-feira foi o compromisso com outros 33 países de partilhar informação sobre quem comanda as empresas sediadas em cada território. As Ilhas Virgens Britânicas e Caimão, no entanto, não entraram no acordo.
Em Londres, os representantes de mais de 40 países prometeram ainda combater os subornos no setor energético e nas obras públicas, tornar o desporto internacional mais transparente e devolver dinheiro desviado. Além do Reino Unido e da Nigéria, estiveram presentes na capital britânica representantes do Afeganistão, Alemanha, Brasil, Estados Unidos da América, França, Gana, Noruega, Nova Zelândia e Quénia, entre outros.
Para Max Lawson, da organização humanitária Oxfam, o primeiro-ministro britânico deveria forçar os paraísos fiscais a divulgar os dados e não só: "Não se trata apenas de fazer o registo público das empresas, mas também de apoiar o movimento em curso na Europa para reprimir as atividades de corporações multinacionais, garantindo que elas divulguem onde pagam os seus impostos país a país. Trata-se de observar como países em desenvolvimento são afetados pela sonegação fiscal."