Assassinato de Cistac continua por esclarecer em Moçambique
2 de abril de 2015Assinala-se esta sexta-feira (03.04) um mês após a morte de Gilles Cistac, vítima de baleamento levado a cabo por homens armados ainda a monte.
Os restos mortais do académico foram transladados para a sua terra natal, Toulouse, em França. A filha do constitucionalista, uma menor de 17 anos, teve de deixar Maputo para se fixar em França, junto dos seus familiares.
Em Moçambique vários sectores continuam inconformados com o assassinato do académico e aguardam ansiosamente os resultados da investigação.
Além de constitucionalista, Gilles Cistac era docente, diretor adjunto de Investigação e Expansão e Coordenador dos cursos de pós-graduação na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
Fonte do Núcleo dos Estudantes de Direito disse à DW África que aquele grupo está "preocupado e lamenta o facto de até agora quem de direito não se ter pronunciado sobre o estágio das investigações".
Falta de esclarecimentos
Discursando na última terça-feira (31.03) no Parlamento, na primeira sessão ordinária da legislatura, a presidente do órgão legislativo, Verónica Macamo, descreveu o crime como "desumano, macabro e bárbaro" e apelou a responsabilização dos seus autores.
"Esperamos que a mais breve trecho os autores deste assassinato e de outros sejam encontrados e levados à barra do tribunal e exemplarmente responsabilizados", salientou.
Diplomatas africanos e da União Europeia (UE) foram recebidos recentemente (23. 03) pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi, mostraram-se igualmente preocupados com a falta de esclarecimento sobre a morte de Cistac.
O porta-voz do Comando Geral da Polícia, Pedro Cossa, disse esta terça-feira (31.03), numa conferência de imprensa, em Maputo, que a polícia "está a trabalhar" no caso.
A DW África perguntou ainda a Pedro Cossa se já há pistas como resultado das investigações em curso. "Não posso falar de pistas", respondeu o porta-voz, insistindo que a polícia está a investigar o crime.
Uma "voz incómoda"
O assassinato de Gilles Cistac foi várias vezes associado a alguns posicionamentos do constitucionalista contrários aos do regime. Porém, o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), negou sempre qualquer envolvimento no crime.
O constitucionalista Cistac considerou que não havia impedimento constitucional à pretensão do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), de criar autarquias provinciais nos locais onde saiu vencedora nas últimas eleições gerais.
Dias antes do seu assassinato, Gilles Cistac disse que ia processar alguém que através da rede social Facebook e com o pseudónimo de Calado Kalashinikov pôs a circular mensagens intimidatórias contra si, acusando-o de estar a promover a subversão no país.
Questionado se a polícia estaria a investigar Khalashinikov, o porta-voz do Comando Geral da Polícia respondeu apenas que "todas as linhas foram postas como suspeitas" e a polícia está a trabalhar nisso. "Algumas serão inúteis, outras serão valiosas" para a investigação, admitiu Pedro Cossa.
O assassinato de Gilles Cistac provocou ondas de choque e consternação no país, tendo sido realizadas manifestações de rua exigindo uma investigação exaustiva e transparente para que os autores do crime compareçam perante a justiça.