Associações cabo-verdianas debatem migração em Lisboa
7 de maio de 2013A contribuição da diáspora no desenvolvimento de Cabo Verde, o empreendedorismo, as políticas de imigração e exercício de direitos políticos nos países de acolhimento, a crise na Europa do Sul e os planos de retorno são alguns dos temas que dominaram este fim de semana, em Lisboa, o I Encontro do Movimento Associativo Cabo-Verdiano.
A iniciativa visa o fortalecimento das associações que representam as várias comunidades, de modo a defender políticas mais coerentes de integração nos países de acolhimento espalhados pelo mundo.
O regresso às origens
Nasceu em Cabo Verde e com 4 anos de idade foi com a mãe para Espanha, juntar-se ao pai. Hoje, com 27, Artemisa Delmar Semedo da Moura é licenciada em Sociologia pela Universidade de Corunha, na Galiza. Visitava o país natal esporadicamente. Agora, faz planos para lá voltar. "Eu sempre disse que, no momento em que terminasse a minha licenciatura, queria experimentar ter sorte lá, ir ver o que acontece. Começar a trabalhar lá, morar entre as pessoas de lá, e ver se me encontro numa situação cómoda ou não e depois o futuro dirá", explica.
Em Espanha, o desemprego é elevado. Por isso, vai tentar a sorte regressando a Cabo Verde. Artemisa considera que "agora, mesmo na Europa, também está complicado". "Tenho a possibilidade, com esta associação de cooperação e, se não, com outras associações. Quem sabe. É naquele mundo que me quero mover agora", conclui.
Esta jovem cheia de expetativa foi uma das participantes no I Encontro Internacional do Movimento Associativo Cabo-Verdiano, realizado em Lisboa, que debateu, entre outros temas, os planos e projetos de retorno para Cabo Verde, particularmente no atual contexto de crise na Europa do Sul. O regresso forçado ou a emigração para outros países europeus mais estáveis: eis a alternativa.
"Ultimamente sim. Principalmente os jovens estão a começar a sair e algumas pessoas, nomeadamente em Zaragoza, estão a sair muito, principalmente para França", explica Elísio Pinto, presidente da Associação Cultural Amílcar Cabral, criada em Espanha.
Uma decisão difícil
Aí, não se registam muitos casos de retorno a Cabo Verde, "porque uma pessoa que esteve todo o tempo aqui em Portugal, França, Holanda ou qualquer país da Europa, e tem que ir fazer uma vida nova, por algumas coisas que não estão a correr bem no país de acolhimento, é muito complicado", explica Elísio Pinto. "Cabo Verde não está fácil como quando o deixámos, há anos atrás", acrescenta.
Pai em idade de pré-reforma, Elísio Pinto, que trabalhava no setor mineiro, tem o projeto de regressar um dia a Cabo Verde. Assim como regressaram com os maridos algumas conterrâneas de Itália que, reformadas, decidiram investir no país por conta própria. Em Itália, cerca de 83% da comunidade cabo-verdiana é constituída por mulheres. Muitas são casadas com italianos. Por isso, o regresso não é tão considerável.
"Não temos esse problema, esperamos que não. Na história da emigração, conhecemos todos, a maior parte vai ficar na Europa, sobretudo os filhos", explica Maria de Lurdes Jesus, a primeira africana a trabalhar na RAI (televisão italiana), agora ligada à Associação Tabanka.
Entretanto, em Portugal, o retorno forçado devido à crise inquieta Mário de Carvalho, presidente da Associação Cabo-Verdiana de Lisboa, promotora do Encontro da Diáspora:"Esta nova actualização da lei da imigração veio, de certa forma, ser desfavorável à integração da comunidade cabo-verdiana em Portugal".
Apoio a quem volta a Cabo Verde
O Governo de Cabo Verde segue esta problemática com atenção e afirma, pelas palavras da ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes, que qualquer cabo-verdiano será sempre bem acolhido. Mas a principal preocupação está nos idosos. "A Embaixada está a trabalhar connosco no sentido de identificar essas idosos e ver de que forma podemos criar soluções", afirma, acrescentando que considera que "as pessoas que já estão a viver há alguns anos fora devem ponderar, devem saber se têm um enquadramento familiar que possa ajudar na reintegração, até porque existem alguns projectos em curso que têm em conta essa ideia do retorno".
Dos projetos faz referência ao acordo com a União Europeia em matéria das migrações, no quadro da parceria especial para a mobilidade, que, sob algumas condições, apoia o plano de regresso dos cabo-verdianos a Cabo Verde, onde poderão investir, por exemplo, em pequenos negócios. Além das iniciativas do Governo, outro apoio provém da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que financia o retorno voluntário como suporte para viabilizar pequenos projetos a implementar no país de origem.