Ataque a autocarro no centro de Moçambique
23 de março de 2016Passava pouco das sete horas e meia da manhã. E, na principal estrada moçambicana, homens armados, não identificados, começaram a disparar contra o autocarro em que seguíamos, que partira da cidade da Beira, no centro de Moçambique, em direção a Maputo. Os disparos não duraram mais de meio minuto. Dentro da viatura da transportadora NAGI Investimentos, dezenas de passageiros ficaram em pânico.
"Estávamos a sair de Muxungué em direcção ao Save e, depois de uns 25 quilómetros, ouvimos disparos", contou depois uma testemunha. "Cada um ficou em pânico porque não estava a entender o que estava a acontecer. Depois senti que estava com um [ferimento de] bala ou um estilhaço no braço."
"Aquela bala era para o motorista", acrescentou uma passageira, "só que foi atingir outra pessoa."
Duas pessoas ficaram feridas ligeiramente. Não houve registo de mortos. Os atacantes alvejaram os pneus e o tanque de combustível do autocarro. Foram precisas mais de duas horas para reparar a viatura.
"Quem sofre somos nós"
Militares das forças governamentais estiveram no local e entraram pela mata, junto à estrada, em busca dos autores do ataque. Sem sucesso. Mais à frente, encontrámos uma mensagem no alcatrão, escrita a giz: "Queremos a paridade, não queremos a guerra para matar as nossas crianças. RENAMO, a vitória é nossa."
Não se sabe quem eram os homens armados. Mas, na região, ataques semelhantes têm sido atribuídos a membros do maior partido da oposição, que alega que, nos veículos, vão militares para as regiões centro e norte do país.
Retomámos a viagem, sob tensão. Os feridos disseram que procurariam assistência médica em Maputo.
Percorremos mais 10 quilómetros e ouvimos novos disparos. Desta vez, não parámos. O autocarro fora apenas atingido na porta.
Chegados à cidade de Maxixe, na província de Inhambane – já fora de perigo – conversámos com os passageiros. Um deles comentava que as forças governamentais e o braço armado do maior partido da oposição, a RENAMO, têm de encontrar uma solução para a tensão político-militar em breve: "Deveriam resolver isso aqui, sentar, conversar", disse. "O tempo está a passar e quem sofre somos nós. Nós dependemos dessa estrada aqui. Peço que resolvam essa situação urgentemente para podermos circular aqui à vontade."