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Ataque a deputado: "Em política não há coincidências"

14 de maio de 2024

Grupo parlamentar do maior partido da oposição angolana denunciou hoje um alegado atentado a tiro contra Carlos Xavier Lucas, deputado da UNITA eleito pelo círculo provincial de Malanje.

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Sede da Unita em Malanje
Sede da Unita em MalanjeFoto: N. Camuto/DW

Em entrevista à DW, o secretário provincial da UNITA em Malanje relata que a viatura onde circulava o deputado foi alvejada por uma pessoa que ia à boleia numa motorizada. Dois tiros terão acertado a viatura de Carlos Xavier Lucas. Entretanto, nem o deputado nem o seu motorista foram feridos.

Mas, a Polícia Nacional afastou a tese de atentado, afirmando que "os disparos que atingiram o veículo em que se fazia transportar o deputado da Assembleia Nacional visavam um comerciante que se encontrava no local e não o deputado".

O deputado Mardanês Agostinho Calunga relata que ambos têm sido vítimas de ameaças e dispara: "Não temos dúvida de que qualquer tentativa contra a nossa integridade física só pode vir do regime".

DW África: O que aconteceu com o seu colega parlamentar em Malanje, o deputado Carlos Xavier Lucas?

Mardanês Agostinho Calunga (MAC): O deputado Carlos Xavier Lucas foi vítima de tentativa de assassinato por parte de dois cidadãos que se faziam transportar de motorizada. Fecharam a viatura. O boleia da motorizada pega numa arma de fogo que portava na cintura. O motorista do deputado deu conta e arrancou o carro em alta velocidade. Apelava ao escolta para que disparasse porque havia alguém com uma arma, que estava a disparar contra a viatura do deputado.

Atingiram a viatura do deputado com dois tiros. Um no pneu, que furou, e o outro na porta do motorista. Felizmente não atingiu o motorista.

DW África: Não terá sido uma tentativa de assalto?

MAC: Penso que não. Porque depois das eleições, temos sido vítima de ameaças por telefonemas a partir de terminais telefónicos não registados: "Esta praça é do MPLA, vocês vão ver, nem vão conhecer a porta da Assembleia Nacional" e por aí a fora. Também destacamos o tratamento diferenciado que as autoridades locais têm estado a dar aos deputados da oposição sobretudo: Não tivemos a proteção das Forcas de Defesa e Segurança. E as ameaças de que temos sido vítimas, em política não há coincidências.

DW África: Mas quem estaria por detrás de tudo isso?

MAC: Não podemos aferir. Mas é verdade que o deputado Carlos Xavier Lucas e o Mardanês Calunga fazem parte de um partido na oposição, que luta pela alternância e que constitui uma ameaça para o regime instalado há 50 anos.

Não temos dúvida de que qualquer tentativa contra a nossa integridade física só pode vir do regime. Para o regime, em Malanje não pode ter oposição. De facto, temos estado sob grandes riscos.

O objetivo era atingir o Carlos Xavier, e amanhã o Mardanês Calunga, para deixarem o caminho.

DW África: Mas a polícia contradiz essa versão e defende que não se tratou de uma tentativa deliberada de assassinato.

MAC: Não há como. Em Angola imperam ordens superiores. Quantos assassinatos foram feitos e até hoje não houve esclarecimento da polícia ou das autoridades? Em Angola, o que é protagonizado pelo regime não tem esclarecimento. Mas quando o Governo não tiver o seu braço envolvido, rapidamente as coisas se esclarecem.

Portanto, o fundamental é que estamos a fazer uma denúncia pública para que as comunidades nacional e internacional tomem conhecimento das atrocidades que estão a surgir em Angola.

Este é um cenário que o regime está a ensaiar para os futuros desafios. Estamos num combate para a institucionalização das autarquias que não é da vontade do regime. Estamos a preparar-nos para as eleições em 2027 e, obviamente, o país vai conhecer pela primeira vez a alternância democrática.

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Braima Darame Jornalista da DW África