Ataque a jornalista da DW: "É um caso estranho"
17 de setembro de 2020O jornalista Luciano da Conceição, correspondente da DW África em Inhambane, foi violentamente agredido no domingo (13.09) por homens mascarados e depois transportado inconsciente para uma zona de praia a três quilómetros da sua residência.
Do ataque resultou ainda a subtração de material jornalístico e de alguns bens pessoais. O caso está entregue à polícia de Inhambane, mas até agora não são conhecidos suspeitos dos crimes.
A DW, o Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) de Moçambique e o MISA-Moçambique já condenaram as agressões e pediram a responsabilização dos seus autores.
A DW África entrevistou Alexandre Matsimbe, do MISA-Inhambane, um Instituto para a Comunicação Social na África Austral, a propósito da violência em Moçambique contra elementos da comunicação social.
DW África: O que sabe sobre a investigação ao ataque ao correspondente da DW Luciano da Conceição?
Alexandre Matsimbe (AM): Nós primeiro inquirimos o Luciano para saber em que circunstâncias ele teria sofrido essa agressão. Depois contactámos, em coordenação com o Sindicato Nacional de Jornalistas, a Polícia da República de Moçambique para sabermos exatamente o que tinham a dizer tendo em conta que o Luciano meteu uma ocorrência. Estamos neste momento a aguardar notícias da polícia que diz estar a fazer o seu trabalho para esclarecer este insólito. É um caso estranho. Ninguém merece este tipo de tratamento.
DW África: Não há qualquer informação sobre os suspeitos?
AM: Não. Questionei o Luciano para saber se ele teria tratado de alguma matéria [jornalística] em que alguém se tinha demonstrado contra, mas ele disse que não. Estamos mesmo atados e a tentar encontrar mais elementos para sustentar este caso e depois passá-los à polícia que está a fazer estas buscas.
DW África: Como é que avaliam este crescente número de agressões a jornalistas no país?
AM: É um atentado ao direito à informação, tendo em conta que o próprio Parlamento aprovou o direito à informação. Quando aparece alguém a tentar contraria [essa lei], é um pouco estranho.
DW África: O roubo de material jornalístico e as ameaças verbais aos jornalistas deixam claro que são atos com motivações políticas?
AM: As pessoas depois não aparecem para nós as identificarmos e sabermos se são políticos ou não. Ao nível da província temos alguns casos. O penúltimo foi em Vilanculos. A polícia confiscou material de uma televisão privada, mas depois devolveu-o e libertou os jovens detidos. O comandante pediu desculpa e o mandante envolvido foi despromovido e retirado da área de atuação.
DW África: Há vontade das autoridades em responsabilizar os culpados?
AM: O Governo os membros da justiça têm-se mostrado com boa vontade em estudar os casos de Inhambane.
DW África: Este tipo de atos estão a condicionar o trabalho da imprensa?
AM: Sim, porque existem temas que alguns média já não abordam. Estamos a falar da situação dos insurgentes da região Norte. Por causa da própria insegurança, os média estão impossibilitados de dizer o que está a acontecer no terreno.