Ataque armado em aldeia no Mali faz quase 100 mortos
10 de junho de 2019Um ataque armado nesta segunda-feira na povoação de Sonankoubou, no Mali, fez perto de 100 mortos, segundo fontes da região. Até o momento mais de 90 corpos foram encontrados e há pelo menos 19 pessoas desaparecidas, após um ataque que parece ter motivações étnicas.
Segundo um comunicado oficial, o massacre ocorreu em Sobame Da, pertencente à comunidade rural de Sangha, na região central de Mopti. De madrugada, homens armados cercaram o vilarejo, realizaram o ataque, incendiaram vários imóveis e mataram diversas cabeças de gado.
O Governo atribui o ataque a "supostos terroristas", pois todos os observadores no Mali afirmam que se trata de um ataque por motivos étnicos contra os dogon. Reforços militares foram enviados à região para perseguir os autores deste massacre.
Violência continua
O massacre de hoje lembra outro ocorrido em março na povoação de Ogossagou, também na região central do Mali, que terminou com 157 mortos. Naquele caso, tratava-se de uma aldeia de etnia peul e a autoria foi atribuída aos caçadores donzos, de etnia dogon e opostos aos peuls pelo controle das terras.
Segundo um recente relatório da ONU, este tipo de violência entre etnias fez 250 mortos entre janeiro e maio, tudo isso sem contar a violência que é causada por grupos jihadistas.
No massacre de hoje, os observadores descartam a participação jihadista porque estes últimos costumam atacar símbolos do Estado (polícia, exército e funcionários) e não tanto povoações da sociedade civil, mas até o momento não há nenhuma reivindicação sobre o ataque.
Na semana passada, o Conselho de Ministros prorrogou até maio de 2020 (já é a segunda prorrogação) o mandato dos deputados do Parlamento, ao constatar a impossibilidade de realizar eleições "regulares e transparentes" pela instabilidade que castiga o país.
Missão de Paz da ONU
A Missão de Paz da ONU no Mali (MINUSMA) anunciou que registrou "pelo menos 488 mortes" em ataques a peuls nas regiões centrais de Mopti e Segou desde janeiro de 2018. "É um choque, uma tragédia", disse o chefe da MINUSMA, Mahamat Saleh Annadif, sobre a última sangria, observando que ela chegou em um momento "quando estamos discutindo a renovação do mandato (da MINUSMA)".
Existem atualmente cerca de 14.700 soldados e polícias destacados no Mali, que é a missão mais perigosa da ONU, com 125 soldados de manutenção da paz mortos em ataques desde o destacamento em 2013.
Os países doadores da MINUSMA vão reunir-se na ONU esta quarta-feira. Uma decisão sobre a renovação do mandato da força está prevista para 27 de junho. Na sede da ONU em Nova Iorque, Annadif lamentou que as autoridades malianas não tenham feito o suficiente para evitar esta tragédia.
Há uma semana, o secretário-geral da ONU, António Guterres, avisou sobre um "alto risco" de atrocidades e apelou ao governo para fortalecer a sua resposta face aos grupos extremistas. "Se essas preocupações não forem abordadas, há um alto risco de escalada que pode levar à prática de crimes atrozes", escreveu no relatório ao Conselho de Segurança da ONU. A MINUSMA foi criada após as milícias radicais islâmicas e tuaregues terem tomado o norte do país em 2012.