Cabo Delgado: "Estamos no mato porque temos medo"
30 de janeiro de 2020Uma professora moçambicana diz que os atacantes vandalizaram e queimaram vários edifícios na localidade onde reside com o filho, Bilibiza, na província de Cabo Delgado.
"Queimaram todo o bairro, o mercado, o hospital... Mesmo a minha casa está queimada com todos os bens", conta em entrevista à DW África.
O grupo armado atacou várias povoações na região e os moradores fugiram para o mato. O clima entre os residentes é de desespero.
"Ainda estamos no mato, porque temos medo. Atravessámos o rio [Montepuez] e estamos numa outra margem, porque eles [os atacantes] estão a dizer que vão continuar nessa noite", afirma a professora. "Estamos tristes, mas bem tristes, porque tudo o que tínhamos já foi embora. Como recuperarmos neste momento, não sabemos. E nem temos como. Nem sabemos como é que vamos trabalhar."
Sobreviver sem comida
Os moradores estão a alimentar-se de folhas de mandioca e não sabem quanto tempo mais irão aguentar.
"Aqui não há nenhum alimento, não há comida. Estragaram toda a comida, queimaram. Sobrevivemos desde ontem. É só hoje que podemos ficar aqui no mato. Amanhã, vamos arriscar. Vamos ao bairro, se eles não entrarem nesta noite. Não sabemos o que vai acontecer", conta ainda a professora de 37 anos.
Além de queimar casas, o grupo armado atacou o Instituto Agrário de Bilibiza, a única escola secundária técnica em Cabo Delgado. A instituição tem 400 alunos, é gerida pela Fundação Aga Khan e responsável por introduzir novas técnicas agrícolas, além de realizar projetos de infraestruturas. Em comunicado, o instituto informa que nenhum dos 11 estudantes e sete professores que estavam no local no momento do ataque está em perigo.
Num comunicado, o Governo português condenou o ataque e ressaltou a importância dos projetos conduzidos pela fundação, que é parceira das autoridades portuguesas.
Ainda não há informações sobre mortos ou feridos na sequência dos ataques. Até agora, as autoridades moçambicanas não se pronunciaram sobre o acontecido.
A violência na província de Cabo Delgado eclodiu em 2017 e já provocou pelo menos 350 mortes. Cerca de 60 mil pessoas foram forçadas a fugir das suas casas. Desde junho passado, o grupo 'jihadista' Estado Islâmico tem reivindicado alguns ataques, mas a autoria não foi confirmada pelas autoridades moçambicanas.
Artigo atualizado às 19:31 (CET) de 30 de janeiro para acrescentar comunicado do Instituto Agrário de Bilibiza.