Moçambique: "Ataques não podem inibir investimentos no país"
2 de fevereiro de 2019Apesar de graves, os atos terroristas em Moçambique não devem ser tomados como um fator de bloqueio para a promoção e atração do investimento estrangeiro. É o que defende Rui Moreira de Carvalho, presidente da direção da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique (CCPM), que aposta na capacitação de jovens como potenciais promotores e canalizadores de investimentos.
Em entrevista à DW, o economista luso-moçambicano desvaloriza os ataques perpetrados por grupos extremistas radicais no norte de Moçambique e afirma que tais atos não põem em causa a presença e a confiança dos investidores internacionais no país.
Para Rui Moreira de Carvalho, é importante diminuir os efeitos negativos da violência na província do Cabo Delgado. "Tudo isso também se deve à capacidade de comunicação, porque hoje as más notícias circulam muito rapidamente. As boas não circulam tanto".
O presidente da CCPM não crê existir uma queda de credibilidade dos investidores internacionais. O economista, que exerceu funções de administração em diversas empresas portuguesas e moçambicanas, defende que os últimos acontecimentos, incluindo os ataques terroristas no norte do país, não significam um revês para o investimento estrangeiro.
"Os gestos terroristas acontecem em toda a parte do mundo; não têm geografia, não têm nação. Você vê nos Estados Unidos, em França, na Alemanha, em Inglaterra. Infelizmente acontecem em Moçambique, mas isso as autoridades locais e a própria sociedade civil sabem encontrar respostas a esse tipo de intervenções criminosas", justifica.
Preocupação dos investidores
Recentemente o encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados em Moçambique, Bryan Hunt, referiu que os investidores norte-americanos precisam de garantias de que existe um esforço interno para travar o extremismo violento na província do Cabo Delgado.
Também querem ver progressos concretos na implementação do desarmamento, desmobilização e reintegração dos antigos guerrilheiros da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), no âmbito dos consensos alcançados nas negociações de paz entre o Governo da FRELIMO e o maior partido da oposição.
Rui Moreira de Carvalho reconhece que, não havendo avanços na implementação dos acordos de paz, este também constitui um fator inibidor de atração do investimento estrangeiro. E diz que "é preciso cada dia ter a vontade de reforçar [o acordo] e de fazer da paz um objetivo e não uma palavra [vã]".
Investimento português
Entretanto, Rui Moreira diz que Moçambique é um mercado natural de dois sentidos, onde cresceu o investimento português, de acordo com os números divulgados, no final do ano, pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Em dezembro de 2013, havia um stock de 595 milhões de euros. "Passados cinco anos, nós temos 981 milhões", revela. "O que quer dizer que houve um aumento para quase o dobro em termos de stock" do investimento direto estrangeiro (IDE) entre Portugal e Moçambique.
Mas o presidente da CCPM reconhece que, em termos de fluxo, o ano de 2018 não foi famoso, embora este não seja um indicador importante. No entanto, "todos os dados dos consulados português em Moçambique e moçambicano em Portugal sugerem o aumento de procura de vistos, o que quer dizer que a deslocação de pessoas, quer de Portugal a Moçambique quer de Moçambique a Portugal, tem sido tendencialmente superior ao ano anterior, o que é um bom indicador".
Capacitação de jovens
Em 2019, no conjunto das suas atividades, a CCPM vai continuar a investir na formação e capacitação dos jovens estudantes moçambicanos. "As empresas, quando se internacionalizam, precisam de recursos específicos que conhecem a cultura dos mercados para onde se destinam. São estas pessoas que vão mostrar aos empresários que estão em Portugal de que em Moçambique há recursos humanos e oportunidades de negócios para os seus investimentos", sublinha.
A DW entrevistou Rui Moreira, em Lisboa, à margem da homenagem rendida, na última terça-feira (29.01), a quatro figuras luso-moçambicanas: ao professor catedrático da Universidade de Coimbra, Manuel Antunes, ao embaixador da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento para Moçambique, Nazim Ahmad, ao futebolista Shéu Han e Rui Pinheiro, da CCPM.
De acordo com o nosso entrevistado, estas homenagens fazem parte do projeto de aproximação da sociedade civil de Portugal e de Moçambique. "São pessoas que têm contribuído para o estreitamento das relações entre os dois países e que, pelos seus valores, são referências para a juventude moçambicana e portuguesa", concluiu.