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Atrocidades na República Democrática do Congo

Linda Staude | AP | AFP | cvt
26 de junho de 2017

ONU denuncia atrocidades na região congolesa de Kasai: Milícias mutilaram bebés e assassinaram inocentes. Estima-se que mais de três mil pessoas foram mortas. Dezenas de milhares fugiram para Angola.

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Angola flüchtchtlings Kinder aus Kongo
Foto: UNICEF/N. Wieland

Isaak Akadue é professor – um bom emprego com que costumava sustentar a família com três filhos; a sua mulher está inclusive grávida de um quarto. Mas os Akadue estão agora num campo de refugiados em Angola, fugidos da violência na República Democrática do Congo.

"Fugimos dos conflitos étnicos. Fomos torturados e atacados. Não temos armas nem facas, mas fomos atacados com espingardas e machetes", afirma.

As autoridades católicas no Congo estimam que, nos últimos meses, mais de 3.300 pessoas foram mortas no conflito em Kasai. Na sexta-feira (23.06), o Conselho de Direitos Humanos da ONU voltou a enviar peritos para a região para investigar as denúncias de abusos, incluindo decapitações.

Atrocidades na República Democrática do Congo

"Os nossos escritórios em Kasai documentaram 42 valas comuns, mas poderá haver mais. Vários refugiados contaram-nos que foram forçados a enterrar as vítimas noutras valas", diz Zeid al Hussein, alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

As milícias na região terão atacado e mutilado bebés e crianças: "A minha equipa viu crianças de dois anos de idade cujos membros tinham sido cortados. Muitos bebés tinham feridas de machetes e queimaduras graves. Um bebé de dois meses foi atingido por duas balas quatro horas depois de ter nascido. A mãe também estava ferida."

Militares co-responsáveis?

As atrocidades na província de Kasai começaram em agosto de 2016, depois das forças de segurança terem matado a tiro o líder e detido alegados membros de uma milícia antigovernamental.

O conflito ganhou atenção internacional em março, quando dois especialistas da ONU que tinham desaparecido em Kasai foram encontrados mortos. Pouco depois, o Presidente congolês, Joseph Kabila, declarou que o Estado tinha a responsabilidade de restaurar a sua autoridade na região "com todos os meios possíveis e legais".

Há, no entanto, relatos de que o exército congolês e a milícia Bana Mura, por ele apoiada, são responsáveis por muitos atos de violência: "Nos últimos dois meses, os Bana Mura mutilaram, queimaram e dispararam contra centenas de habitantes e destruíram aldeias inteiras", denuncia Zeid al Hussein.

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Refugiados congoleses na República Democrática do CongoFoto: UNICEF/N. Wieland

Mais de um milhão de deslocados

Até agora, na província de Kasai, 1,3 milhões de pessoas tiveram de fugir das suas casas devido à violência. Só 30 mil congoleses conseguiram atravessar a fronteira e entrar em Angola - o país expulsou, segundo as Nações Unidas,mais de oito mil congoleses, segundo a ONU.

Brigite Ibompenge está entre os refugiados que chegaram a território angolano e desespera pela situação no seu país: "Estou muito triste porque o nosso povo está a morrer. As nossas vidas foram destruídas, as nossas filhas desapareceram. Aconteceram tantas coisas más. Tudo o que queremos é a paz no Congo."

Agências humanitárias estão a pedir ajuda financeira para apoiar o Governo angolano na assistência aos refugiados. A Itália informou estar a contribuir com 300 mil euros.

Entretanto, em Kinshasa, Adama Dieng, assessor especial das Nações Unidas para a Prevenção do Genocídio, instou as autoridades congolesas "a diminuir a sua resposta militar e a dar prioridade ao diálogo entre todas as partes no conflito".

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