Aumenta a perseguição de intelectuais no Chade
17 de maio de 2013
Por decisão do Presidente do Chade, Idriss Déby, a passada segunda-feira (13.05.) foi feriado no país. Enquanto na capital, N’Djamena, se comemorava o regresso do Mali dos primeiros 700 soldados chadianos, entre 10 e 20 pessoas – o número exato não foi divulgado – permaneciam detidas.
No início de maio, estas foram acusadas de terem participado numa conspiração contra o Governo, tendo colocado em perigo a ordem constitucional.
Entre os detidos estão jornalistas como Eric Topona, correspondente da DW, e parlamentares da oposição como Gali Gata Ngoté, mas também o seu colega, Yora Golom, deputado do partido governamental.
A ativista chadiana dos direitos humanos, Delphine Djiraibé, membro do grupo de advogados dos dois deputados, realça que estes foram detidos apesar de gozarem de imunidade parlamentar. "Todo o processo está viciado”, diz Djiraibé, “estas pessoas têm de ser libertadas”.
“Déby está a aproveitar posição de força”
Helga Dickow, especialista do Chade no Instituto Arnold-Bergstraesser na Universidade alemã de Friburgo, suspeita que o Presidente chadiano está a aproveitar o papel militar do seu país no Mali, que lhe valeu o reconhecimento internacional, para alcançar os seus próprios objetivos. Idriss Déby governa o Chade com mão de ferro desde 1990, quando tomou o poder através de um golpe de Estado.
Na opinião de Dickow, "Déby está a aproveitar esta sua posição de força para uma pequena limpeza sem impedimentos”. Tal deve-se, segundo a pesquisadora, ao facto de Déby saber “que tem a antiga potência colonial França do seu lado”. Para ela, o chefe de Estado ajuda a comunidade internacional a libertar o Sahel dos islamitas fundamentalistas e a pacificar o Mali, “mas espera que, em contrapartida, os aliados o critiquem menos quando procede com dureza contra a oposição".
O presidente Déby desmente as acusações de perseguição da oposição. Entretanto, o Governo de Paris esperou até esta segunda-feira (13.05.) para se pronunciar sobre o ocorrido, adiantando oficialmente apenas estar preocupado com as detenções no Chade.
“O objetivo é tornar o Chade um pólo que ninguém possa ignorar”
Marielle Debos, pesquisadora no Instituto francês de Ciências Sociais e Políticas, ISP, exige do seu Governo palavras claras e pressão política sobre N’Djamena: "A intervenção no Mali está estreitamente ligada à política de Déby de há já alguns anos", diz Debos, “o objetivo é tornar o Chade um pólo na África central que ninguém possa ignorar".
O Chade também enviou tropas para a vizinha República Centro-Africana, onde apoiam o Governo de transição resultante do golpe de Estado de março passado. E o Chade pretende continuar a assumir um papel relevante no Mali, sendo considerado um dos candidatos à chefia das tropas das Nações Unidas, que chegarão ao país a partir de julho.
No próximo dia 25 de maio, Eric Topona terá a primeira audiência perante um tribunal.