Aumenta número de deslocados internos em Moçambique
24 de outubro de 2016Fátima Saíde acaba de chegar ao centro de deslocados de Vanduzi. Veio para aqui por causa da guerra na sua terra natal, no distrito de Báruè. Os sons dos tiros não paravam, conta Fátima.
"Vinham homens da RENAMO e queimavam casas, disparavam armas, isso tudo na nossa região”, descreve a deslocada. Perante esse cenário, “não conseguimos ficar lá, fugimos para esta zona", acrescenta Fátima Saíde.
Joaquim Abril Jeque também teve de fugir. Ele condena o clima de terror na sua região, que de igual modo atribuiu aos homens armados do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana.
"Os homens armados da RENAMO têm vingado, ameaçado pessoas, usando armas de fogo, matando nossos animais, levam comida, agridem as nossas mulheres (...). Achámos conveniente fugirmos à procura de defesa por parte do Governo", conta Joaquim Abril Jeque.
Joaquim e Fátima são dois dos 1076 deslocados internos que encontraram abrigo no centro de acomodação de Vanduzi. As autoridades abriram este centro recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Estão aqui adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigadas a abandonar a escola.
Feniasse Mateus afirma que “estava a estudar na nona classe”, mas teve de deixar a escola devido ao conflito armado. “Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar”, lamenta o jovem.
Sem água potável
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo. E já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados" explicou o porta-voz do INGC. Na província de Manica há outros três centros: em Mossorize, em Gondola e em Báruè.
Mas Fátima Saíde queixa-se das condições em Vanduzi, onde foi acolhida, nomeadamente da falta água potável. “Estamos a sofrer por causa de água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos nessa água e beber.”
Segundo ela, a água é tirada de furos tradicionais e charcos. Fátima teme a eclosão de doenças como cólera e diarreia agudas por causa do tempo quente.
Por isso, Fátima Saíde pede a intervenção das autoridades – não só para lhes dar melhores condições, mas também para parar com a guerra. "Pedimos aos mentores do conflito para resolverem a curto prazo."
A DW tentou contactar a RENAMO na província de Manica, sem sucesso.