Aumento de caça furtiva provoca alerta em Moçambique
10 de setembro de 2014Os principais alvos dos caçadores furtivos são os elefantes, cujo abate é interditado pela lei moçambicana. O objectivo dos criminosos é extrair as presas para vender o marfim no mercado negro. Os métodos de caça chegam a incluir o uso de helicópteros, para além de armas de fogo muito sofisticadas, sobretudo quando comparados ao equipamento dos fiscais do parque. Estes não possuem os meios para enfrentar o fenómeno.
Os caçadores furtivos recorrem ainda a substâncias tóxicas, abrem trincheiras e montam armadilhas com tábuas cravadas de pregos. Entre estes criminosos encontram-se numerosos estrangeiros que, no entanto, agem com a conivência de nacionais. O aumento dos casos é ainda possível por causa da fraca colaboração das comunidades locais com as autoridades. Quase nunca há denúncias dos furtivos, encontram abrigo nas aldeias.
O Governo é chamado a agir com urgência
Segundo o ambientalista Dionísio Agostinho da Associação do Meio Ambiente de Cabo Delgado, combater o fenómeno passa necessariamente pelo reforço da equipa de fiscalização na área de conservação. Embora admitindo não ser possível constatar se os caçadores eram nacionais ou estrangeiros, Dionísio Agostinho diz: “Pela dimensão dos estragos na floresta vê-se que eram profissionais que abateram grandes quantidades de elefantes”. Por isso, conclui, urge o Governo aumentar a fiscalização da floresta.
Apesar de os elefantes estarem na lista das espécies em vias de extinção, são justamente eles os animais mais abatidos no parque, lamentou Dionísio Agostinho em conversa com a DW África.
Efeitos económicos negativos
Para o ambientalista, o declínio da fauna pode, no futuro, vir a ter impato directo na economia e no tecido social não só de Cabo Delgado, como do país todo: “Já começámos a perder a fauna, neste caso a espécie de elefantes está a ser drasticamente reduzida”.
Algo que vai afetar negativamente o turismo, acrescenta, porque há pessoas que se deslocam ao parque apenas para travar conhecimento com os paquidermes. Essas pessoas poderão deixar de ir ao parque: “O que não vai ajudar muito a nossa economia em Cabo delgado, nem a do nosso país”.
Autoridades apontam o dedo à Justiça
Por seu lado, as autoridades do parque queixam-se do fato dos caçadores furtivos encaminhados para o tribunal a fim de serem julgados, saírem em liberdade sem que lhes seja instaurado qualquer processo. O porta-voz da polícia de Cabo Delgado, Abdul Chaguro, explicou à DW África que compete à polícia neutralizar os caçadores e preparar processos criminais, mediante as provas incriminadoras de que dispõem. Mas o resto cabe aos tribunais: “A polícia não tem competência para fazer o julgamento”.
Só nos últimos dois anos foram ilegalmente mortos no parque nacional das Quirimbas em Cabo Delgado cerca de 28 elefantes, para além de outros animais de pequeno porte.