Ausência de Presidente de Angola dá azo a especulações
4 de dezembro de 2013A situação provocou alguma especulação em Luanda e no estrangeiro. A última informação oficial foi um comunicado da Presidência da República angolana, no passado dia 29 de novembro, que lamentava "a forma leviana e irresponsável como a RTP" divulgou uma notícia sobre o estado de saúde do Presidente dos Santos, numa referência à televisão pública portuguesa. O comunicado destacava que o Presidente angolano estava de boa saúde e que regressaria ao país dentro de dias.
Com efeito, a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) veiculou, no dia 28 do mês passado, uma notícia sobre o internamento de José Eduardo dos Santos numa clínica oncológica em Barcelona, Espanha, sem contudo citar fontes. Logo em seguida, em Luanda, um desmentido foi feito pelo chefe da diplomacia angolana, Georges Chikoti, num encontro com o corpo diplomático. Também o genro do Presidente angolano, Sindika Dokolo, que participou na abertura, no dia 30 do mês passado, em S. Tomé e Príncipe, na VII Bienal Internacional daquele país, considerou falsa a informação e sublinhou que: “O Sr. Presidente da República aproveitou ter fechado o dossier do Orçamento Geral de Estado para 2014, que foi um grande trabalho, para aproveitar uns dias de férias. Acho que aproveitou para ver o dentista. Se calhar foi daí que surgiu esse rumor que não tem fundamento nenhum. Acho que ao nível da nossa comunicação social, a opinião pública nacional, angolana, já recebeu todas as explicações necessárias. E acho que os desmentidos dos próprios órgãos de comunicação da presidência foram muito claros em relação a isso”.
Desinformação?
Sindika Dokolo prossegue afirmando não ser esta a primeira vez que se ouve este tipo de notícias: “Não sei se é desinformação, ou se é por falta de acesso a informação, mas acho que a opinião pública angolana está tranquilizada em relação a isso”.
Porém, de acordo com várias fontes contactadas pela DW África em Luanda, esta segunda ausência de José Eduardo dos Santos de Angola num espaço de seis meses e sem muitas explicações oficiais, provocou muita preocupação e apreensão entre a população do país. Joaquim Nafoia, do Partido da Renovação Social (PRS), diz que o Presidente José Eduardo dos Santos já habituou os angolanos a este tipo de exercício. “Temos um presidente da República que pensa que Angola é um quintal no que lhe diz respeito. Pode-se ausentar os dias que ele quiser sem dar satisfação ao povo”.
Preocupação e apreensão
Mesmo assim, segundo Nafoia, o seu partido está preocupado: “Nós encaramos esta ausência com muita apreensão, porque quando há problemas graves, como esses que nós temos com o assassinato de dois ativistas e que culminaram com o assassinato de um deputado do (partido) CASA-CE, o Presidente da República ausenta-se sempre para procurar bodes expiatórios, quando ele próprio é o mandante número um dessas execuções”. Nafoia disse ainda à DW África que esta ausência prolongada do Presidente é “estratégica, própria de regimes autocráticos”.
A União Nacional para a Independência Total de Angola, UNITA, a segunda maior força política do país, e o principal partido da oposição, informa que está a “refletir” sobre o que significa esta ausência. Em seu nome, Alcides Sakala, diz ser a segunda ausência em pouco tempo, sem muitas informações sobre o assunto: “Devia haver mais informação de quem de direito. Há algumas informações que vêm da imprensa e que são atribuídas, penso, ao marido da filha do Presidente. Mas não são de fonte oficial".
Secretismo resulta em muita especulação
Em entrevista com a DW África, o jornalista William Tonet, da “Folha 8”, destaca que há muita especulação em volta de algo que é normal nos humanos. E isso deriva do facto de se fazer segredo sobre atividades normais. Para Tonet, os serviços de apoio do Presidente da República deveriam ter um outro tipo de comportamento: “Que se diga de facto às pessoas o que vai obrigando a que o Presidente de um país fique no exterior por tanto tempo. Tudo isto deve ser esclarecido e melhorado”. Entre as especulações que circularam no país, uma das mais comentadas foi a suposição de que Angola estaria a ser governada pelo general Hélder Vieira Dias, conhecido por Kopelipa, um dos braços direitos do Presidente.
Segundo Tonet: “É verdade que há um círculo interno que controla tudo. É preciso que haja certezas”. O indício que leva a esta especulação concreta, diz o jornalista, terá sido o envolvimento do general nas manifestações: “Mas não é bom”. E remata que todas essas especulações resultam do secretismo: “Faz-se segredo daquilo que é público e público o que é segredo.
País precisa de estar preparado
O jornalista Tonet diz que os angolanos têm que ver que o Presidente é uma pessoa comum, “com as suas alegrias e tristezas, frustrações, saúde, doença”, merecendo todos os cuidados: “Se é esse cuidado que ele está a merecer, não deve ser um segredo, até pelas altas funções que desempenha, e para o país estar melhor preparado.