O fim da zunga em Luanda?
2 de novembro de 2017Nas ruas da capital angolana soam os gritos das zungueiras que apregoam a mercadoria. São muitas e na maioria mulheres que têm a zunga como o seu ganha-pão.
As razões porque vendem nas ruas são várias. Marinela Domingas, por exemplo, queixa-se de escassez de clientes nos mercados construídos pelo Governo da Província de Luanda: "Lá não tem cliente. Se vendes lá o negocio vai à falência,” diz Domingas à DW África, embora reconheça que "a praça está mesmo bem organizada”.
Desde sempre existiram relatos de repressão policial contra as vendedoras ambulantes. Durante o processo eleitoral registou-se uma espécie de interlúdio, diz André José, zungueiro de calças na Deolinda Rodrigues, uma das maiores avenidas da capital angolana: "Durante as eleições houve corrida, mas não foi tanta”.
Falta de emprego
Agora está mais difícil ser vendedora ambulante, explica Paulina Barroso: "O dia de hoje está mal, desde a manhã não estamos a conseguir vender”. Paulina Barroso conta que está constantemente a ser interpelada por fiscais e a polícia: "Estão a dar-nos corrida”, diz.
Tudo indica que a "corrida" já é resultado do ultimato dado, na semana passada, pelo governador da província aos administradores municipais, que instou a acabar com a zunga em Luanda. "Se acabarem com a zunga têm que nos dar emprego para nós trabalharmos. Por exemplo, nas lojas”, diz Paulina Barroso. Não parece uma tarefa fácil a julgar pela dimensão que o fenómeno já atingiu.
Repressão resulta em mortes
Também há casos de jornalistas vítimas da agressão policial, diz o psicólogo e jornalista Fernando Guelengue: "Assiste-se a uma represália (por parte da polícia) aos jornalistas que fazem a cobertura quando há questões de morte”. O jornalista refere-se a casos em que zungueiras em fuga de fiscais foram atropeladas.
Para além de homens e mulheres há muitas crianças que dependem da zunga para sobrevier. Por isso Guelengue, autor do livro "Pobreza: O epicentro da exploração das crianças em Angola entre a escravização e a polémica”, lança um apelo às autoridades para que estudem melhor a realidade antes de tomarem qualquer medida: "Lá se encontram todos os fenómenos que ocorrem, sobretudo a questão da pobreza, da desestruturação familiar, falta de emprego, gravidezes precoces. Tudo isso envolve um estudo e uma análise profunda para mitigar o problema. Quando o Governo diz que quer acabar com a zunga, já está carente de estudos”.