Autoridades travam marcha contra violência policial em Angola
8 de dezembro de 2014A iniciativa, que contou com o apoio de várias organizações de defesa dos direitos humanos, começou com a detenção de vários ativistas logo nas primeiras horas de domingo (07.12). Entretanto, os jovens foram postos em liberdade.
A Polícia da Ordem Pública, auxiliada pela Polícia de Intervenção Rápida e alguns operativos dos serviços secretos à paisana, ocuparam todos os locais públicos e colocaram vigilantes nas principais vias de acesso ao Largo da Independência e ao Marco Histórico do Cazenga, locais onde terminaria a “Marcha Contra a Violência Policial”.
Apesar do forte aparato policial, alguns jovens ativistas ainda conseguiram chegar ao largo da Shoprite do Palanca, local da concentração da marcha, mas foram imediatamente detidos.
As forças policiais levaram os jovens manifestantes até à casa do ativista Manuel Nito Alves, ao invés de conduzi-los a uma esquadra policial.
Novos métodos de luta
Perante a atitude do regime de Luanda contra iniciativas dissonantes aos seus interesses, o jovem Adolfo Campos, um dos rostos do movimento contestatário ao regime, diz que chegou a hora de delinear “métodos mais eficientes” de luta contra o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos.
“Estamos agora a analisar uma nova estratégia para ver como é que podemos combater esta grande irregularidade por parte da polícia. A polícia não está a trabalhar para o povo, mas sim para um partido, que é o MPLA [no poder]”, critica o ativista do Movimento Revolucionário.
Entre os detidos da abortada marcha contra a violência policial estava o escritor Domingos da Cruz. O também jornalista afirma que, efetivamente, é vontade do Presidente angolano reprimir as vozes discordantes do seu poder instituído. “O simples facto de clamarmos por uma democracia é sinal de que nos encontramos numa ditadura”, disse à DW África.
“Edifício da ditadura” tem de ruir
Questionado sobre a possibilidade de se levar ao tribunal processos contra as autoridades governamentais pelas violações do direito à manifestação, Domingos da Cruz responde que “ a solução para que as pessoas possam um dia manifestar-se de forma livre e sem receio passa por aquilo que vimos no Burkina Faso e na Tunísia.”
Domingos da Cruz diz não acreditar em processos judiciais dentro de um sistema que classifica como autoritário. “A solução para Angola é uma solução popular que seja capaz de fazer ruir o edifício da ditadura e ponto final”, conclui.
A marcha prevista para domingo visava apelar ao fim da violência policial contra os manifestantes, tendo como exemplo o caso de Laurinda Gouveia.
A jovem universitária foi torturada por ter participado na manifestação de 23 de novembro, organizada pelo Movimento Revolucionário para exigir justiça em relação ao assassinato de Manuel Alberto Ganga, um militante da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE) morto por membros da Guarda Presidencial há cerca de um ano.
Sobre o assunto, o Grupo de Trabalho de Monitoria dos Direitos Humanos em Angola (GTMDH), uma plataforma que alberga diversas associações cívicas, exigiu na semana passada um pronunciamento imediato do Presidente José Eduardo dos Santos