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Moçambique: Terá sido Manuel Chang uma moeda de troca?

9 de julho de 2019

Moçambique, que terá resistido longamente às pressões dos EUA para agir contra um eventual islamismo radical, pode ter finalmente cedido, entende analista. E o ex-ministro das Finanças pode estar na base da resignação.

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Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de MoçambiqueFoto: Ferhat Momad

Os Serviços de Informação e Segurança do Estado de Moçambique (SISE) pediram ao governo da cidade de Maputo para mapear mesquitas. A intenção surge no contexto dos ataques armados realizados por homens até agora não devidamente identificados na província nortenha de Cabo Delgado. É  que vários setores assumem que se trata de terrorismo associado ao Islão.

Andre Thomashausen, especialista em direito internacional, cola o manifesto interesse de controlo as mesquitas ao processo de extradição do ex-ministro das Finanças, Manuel Chang: "É possível que tenha havido um entendimento político agora durante a recente visita do sub-secretário assistente para África, o sr. Nagi, que esteve em Maputo para a Cimeira de Negócios África-EUA.

"É possível que aí tenha havido algum entendimento de que possivelmente os EUA iriam abandonar a resistência contra a extradição de Chang para Moçambique tendo como contrapartida um maior desempenho de Moçambique no combate ao fundamentalismo islâmico", argumenta o especialista. 

Moçambique: Terá sido Manuel Chang uma moeda de troca?

Movimentações com marcas norte-americanas em Maputo?

E neste âmbito, supõe-se que o controlo cerrado agora iniciado tenha tentáculos norte-americanos.

E Andre Thomashausen lembra "que de repente nesta última semana houve uma movimentação contra as mesquitas em Maputo, houve atuação de empresas de segurança privadas americanas e parece que existe um novo braço de ferro contra o que se suspeita ser um islamismo fundamentalista em Moçambique."

Respeito à soberania tem sido um discurso, ou chavão, repetido não apenas por políticos, mas também por intelectuais e outros setores. Caso para questionar onde cabe agora esse bem maior da nação com a entrada de empresas de segurança estrangeiras em assuntos de segurança nacional. 

Governo e a sua resistência de realce

E embora aparentemente Moçambique não tenha resistido a pressão do EUA, Thomashausen sublinha positivamente o finca-pé que Maputo conseguiu fazer no frente a frente com a potência mundial e compara mesmo com um país irmão. 

"Moçambique por enquanto tem resistido as pressões nesse sentido, ao contrário de Angola. Angola até chegou ao ponto de arrasar mesquistas com buldozers e caterpilars destruíndo os sítios da fé, [mas] Moçambique tem resistido. Penso que agora chegou a um acordo de cooperação em matéria de segurança justamente porque tem havido toda esta série de ataques trágicos e horríveis no norte de Moçambique", exemplifica. 

Mas o especialista em direito internacional lembra que as ações firmes poderão ser efetuadas sob a esteira de grandes dúvidas: "Só que por enquanto faltam todas as provas de que se possa tratar realmente de provas do fundamentalismo dito islâmico. As verdadeiras comunidades muçulmanas negam que esse extremismo tenha legitimidade religiosa."

Comunidade muçulmana revoltada?

Jumma Masjid Moschee in Mosambik
Mesquita da baixa da cidade de Maputo. Foto simbólicaFoto: picture alliance / Andrew McConnell/Robert Harding

Mas a aparente intenção de um maior escrutínio às mesquitas já está a causar algum descontentamento no seio da comunidade muçulmana na capital moçambicana.

Diante da intenção de mapeamento das mesquitas, sheik Aminudin Mohamad, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique e do Conselho das religiões no país sublinha que "em Moçambique não há nenhuma mesquita que pregue o radicalismo, nem no norte. Alias, o próprio Governo já está a aprovar que os tais insurgentes nem são moçambicanos, são tanzanianos. Então simplesmente o Governo tem de gerir a situação de segurança."

E o líder religioso garante que "as mesquitas não tem nada a ver com isso, se eles tiverem como alvo as mesquitas, então vamos considerar uma posição discriminatória e de perseguição, porque o Islão não é a única religião em Moçambique e além do mais está em Moçambique há mais de 1000 anos e nunca pregou a violência e nem terrorismo então não motivo agora de nós sermos suspeitos de promover esse tipo de atos."

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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