Baixas na guerra colonial são maiores do que se pensava
9 de setembro de 2021Pela primeira vez, são revelados os números das baixas de militares portugueses na guerra colonial, baseados nos relatórios dos três ramos das Forças Armadas que participaram no conflito armado em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Mais de 10 mil militares portugueses perderam a vida nas três frentes de guerra em África, entre 1961 e 1975. Esses dados contrariam os números oficiais que, até aqui, apontavam para mais de oito mil os homens mortos no então Ultramar.
Essas informações são resultado de uma investigação encetada por Pedro Marquês de Sousa, doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa. O tenente-coronel do Exército português diz que o ponta pé inicial da sua pesquisa foi a desconfiança de achar baixo o número de óbitos de militares.
O historiador também investigou o número de baixas da população civil e dos movimentos independentistas e afirma que, "seguramente, de acordo com os dados, existem mais de 45 mil mortos” em decorrência do conflito.
Equipamentos de traídores
Essas informações estão compiladas no livro "Os Números da Guerra de África”. Além desses dados, os números de armamentos, desertores e as despesas que Estado português teve com o confronto também podem ser ali encontradas.
O militar também remete-nos para um estudo científico da Universidade de Coimbra que aponta que, em consequência da guerra, terá havido cerca de 9 mil desertores. Só até 1966 foram cerca de 4.5 mil traidores, sendo a maioria registrados em Angola.
O autor diz que esta abordagem tem a ver realmente com a quantidade de equipamentos, meios navais, meios aéreos, armas, aquilo que foi utilizado: "Temos também a ideia das dificuldades que o aparelho militar português teve em termos de desgaste, dificuldades de manutenção, dificuldades de pessoas. É, realmente, um trabalho feito na perspetiva do historiador militar".
Investigação precisa continuar
O tenente-coronel português, que tinha 6 anos quando aconteceu a Revolução do 25 de abril de 1974, faz parte da geração que não viveu a guerra. Para o autor, este trabalho presente da Feira do Livro de Lisboa é mais um contributo para a melhor compreensão e conhecimento desse período da História de Portugal e dos Países Africanos de Língua Oficial.
Ele encoraja também as universidades a buscar saber mais sobre o assunto, para manter a memória viva. "Eu calculo que seja muito difícil ainda hoje para os povos irmãos de África – os novos países – também terem pesquisas deste género. Mas era bom que houvesse um esforço para se confrontarmos, para chegarmos a um nível de conhecimento melhor”, afirma.