Beira: Empresários em greve contra onda de raptos
22 de outubro de 2020A classe empresarial em Sofala está preocupada com os constantes casos de raptos, seguidos da exigência de pagamentos de altas somas de dinheiro pelo resgate, que se têm vindo a registar na cidade da Beira e também Maputo.
Zeyn Badat, representante da classe empresarial na Beira, apela às autoridades moçambicanas que esclareçam os casos e ponham termo aos raptos.
"Esta situação, tal como está, é insustentável e inaceitável", afirmou Badat esta quinta-feira (22.10) durante uma conferência de imprensa que juntou mais de duzentos empresários da cidade da Beira.
"Como cidadãos não podemos permanecer eternamente calados, amedrontados e espezinhados perante situações tão graves e inconcebíveis, sem nos levantarmos para fazer soar bem alto o nosso grito de revolta."
Os empresários convocaram, por isso, uma greve de três dias que arrancará esta sexta-feira.
"Os empresários que aderiram a esta manifestação decidiram encerrar os seus estabelecimentos comerciais durante três dias consecutivos, nomeadamente sexta-feira, sábado e domingo, como medida de protesto contra esta situação criminal que parece estar fora de qualquer controlo."
Nove raptos em 2020
Os raptos intensificaram-se nos últimos anos. Vários deles ainda não foram esclarecidos pela polícia.
Só neste ano houve nove raptos de empresários e familiares em Moçambique. As autoridades conseguiram resgatar três vítimas, outra terá sido libertada em circustâncias ainda não especificadas.
O empresário Rodrigo Sebastião, de nacionalidade portuguesa, conta que o seu pai foi raptado em 2016 na localidade de Nhamapaza, a norte da província de Sofala. Até hoje, não conhece o seu paradeiro.
"O meu pai é um empresário, foi raptado nesta província em plena luz do dia, numa bomba de combustível, e até agora as investigações não conseguiram trazer um culpado. Portanto, o rapto do meu pai relaciona-se com estes raptos que têm acontecido ultimamente, onde os criminosos têm passado impunes e sem serem capturados", frisa Sebastião, que pede às autoridades moçambicanas que cooperem com a Polícia Judiciária portuguesa, para esclarecer o caso.
Autoridades rejeitam cooperação
"O que nós sabemos é que ainda não foram indiciados nenhuns culpados nem foram descobertos os autores do crime. E é esse pedido que a família tem tido, que permitam a entrada ou auxílio das autoridades portuguesas neste caso porque o objetivo é encontrar o meu pai e não deixar os autores impunes".
No entanto, Moçambique tem rejeitado esse tipo de apoio.
Gilberto Correia, antigo bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, pede ao Estado que "se organize" para garantir a segurança dos cidadãos.
Na sua opinião, "se não se combate os raptos de forma eficaz, a situação vai ficar completamente descontrolada. Acho bem que cidadãos contribuintes se manifestem de forma pacífica, mas veemente, para pedir ao seu Estado que cumpra com as suas obrigações", conclui.
Na quarta-feira, a secretária de Estado na província de Sofala, Stella Zeca, encontrou-se com os empresários, pedindo-lhes que depositassem mais confiança nas autoridades.