Berlim exibe arte figurativa da angolana Manuela Sambo
9 de abril de 2012Manuela Sambo dedica-se à arte figurativa, enquanto Daniel Richter só expõe arte abstrata. Daí o título da exposição inaugurada a 04.04 e patente até 03.05 na Galeria Listros em Berlim. “São coisas muito diferentes e um campo magnético é algo que se atrai, mas ao mesmo tempo nunca chega a juntar-se. Achamos que esta exposição é, portanto, um campo magnético”, explica a artista plástica.
Inspirada na arte europeia medieval e renascentista, Manuela Sambo representa nos oito quadros em exibição mulheres que encontrou em obras de artistas famosos dos séculos XV, XVI e XVII. E porque a arte europeia foi extremamente influenciada pela arte africana, especialmente a modernidade clássica e os impressionistas, a pintora imaginou “como seria se uma artista, vinda de África, buscasse a arte tradicional europeia e trabalhasse com ela?”
Manuela Sambo inspirou-se no trabalho de mestres como o espanhol Pablo Picasso. O criador do Cubismo era um conhecido amante e colecionador de obras africanas que impregnaram o seu trabalho. “Sempre disse que adorava e que aquelas formas o influenciavam muito e o inspiravam. Qualquer obra de Picasso é impensável sem a arte africana”, frisa.
A mulher no centro
A mulher foi escolhida como o tema principal das pinturas da artista. Manuela perdeu cedo os pais. Como cresceu sem a mãe, desenvolveu uma forte ligação com a irmã, que aparece representada em duas peças biográficas.
A pintora começou a trabalhar nas obras através de um quadro do século XVI, da escola de Fontainebleu, onde está um quadro de duas irmãs. “Notei que este diálogo mudo entre estas duas pessoas descreve um sentimento e um estado de espírito que tem extremamente a ver comigo, com a minha biografia e com a minha irmã. Para mim, são os quadros especiais da exposição”, conta.
Arte para matar a saudade
A caminhada de Manuela Sambo até à exposição “Magnetfeld” foi longa. A carreira da artista começou quando ela veio para a Alemanha, há mais de vinte anos. Chegou de Luanda, atraída por uma bolsa para estudar Germanística, na cidade de Leipzig. Foi lá que conheceu o marido, tomou gosto pela arte e aprendeu sozinha a pintar.
“Desta forma, consegui desenvolver a minha própria linguagem artística, independente de qualquer corrente artística ou moda. Portanto, a minha arte desenvolveu-se por si só”, recorda.
Manuela Sambo revela que se surpreendeu ao perceber que trazia consigo uma bela herança: o traço angolano, marca das suas obras. Segundo a artista, pintar foi a maneira que encontrou de lidar com as saudades de Luanda. “A arte foi uma boa possibilidade de me sentir muito ligada ao meu país e à minha família, porque especialmente nos primeiros anos sentia muitas saudades e não me conseguia adaptar bem à sociedade alemã. A arte foi para mim uma espécie de irmã”, confessa a artista plástica.
Autora: Cristiane Vieira (Berlim)
Edição: Madalena Sampaio/Helena Ferro de Gouveia