1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Biafra: O sonho de um Estado independente

Katrin Gänsler (Enugu)
30 de maio de 2017

Biafra foi, durante muito tempo, sinónimo de uma guerra sangrenta, em que morreram centenas de milhares de pessoas, entre 1967 e 1970. Cinquenta anos depois, muitos habitantes da região ainda esperam um futuro melhor.

https://p.dw.com/p/2dpSK
Foto: DW/K. Gänsler

Seja em garrafas de cerveja, em bandeiras ou em posters nas ruas: no sudeste da Nigéria, o sol nascente está um pouco por todo o lado. Este é o símbolo de um Estado que deixou de existir, a República do Biafra, que declarou a independência há 50 anos. Seguiu-se uma guerra civil sangrenta e, com a derrota dos separatistas, em 1970, falar no Biafra tornou-se tabu.

Mas, décadas depois, já se discute de novo o Biafra nas ruas. Na cidade de Enugu, Kingsley Okah fala apaixonadamente sobre o antigo Estado. O jovem de 27 anos estudou Ciências Políticas e cresceu no território da ex-República – e gostaria que o Biafra fosse independente.

Num país com mais de 185 milhões de habitantes pertencentes a 250 etnias, ele diz que se sente marginalizado, apesar do seu grupo étnico, os Igbo, ser um dos maiores na Nigéria. Okah culpa o Governo de Muhammadu Buhari, um muçulmano do norte: "No atual Governo, não há ninguém do Leste".

Karte Nigeria Biafra POR

"O Biafra é a solução"

O jovem não se sente representado no Executivo e, mais do que isso, vê a composição governamental como ameaça: "Se eles quiserem matar o povo do leste, poderão fazê-lo sem problemas. Temos de lutar pelos nossos direitos. O Biafra é a solução."

Esta posição tem conquistado cada vez mais adeptos nos últimos anos, sobretudo entre os jovens. E ouve-se particularmente nesta altura, 50 anos depois da declaração de independência do Biafra, a 30 de maio de 1967, pelo então governador militar Chukwuemeka Odumegwu Ojukwu, após dois golpes de Estado e graves confrontos étnicos.

Biafra: O sonho de um Estado independente

Nnamdi Kanu tem sido um dos responsáveis pelo reavivar dos debates sobre o Biafra. O líder do movimento dos Povos Indígenas do Biafra (IPOB, da sigla em inglês) foi libertado sob fiança em abril – Kanu esteve mais de um ano na prisão, acusado de conspiração e de pertencer a uma organização criminosa. Organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional, protestaram contra a detenção.

O medo do norte

Kanu encontrou agora refúgio em casa dos pais em Umuahia, no estado vizinho de Abia, e tem recebido inúmeras visitas. "A vida não tem sentido sem o Biafra. Tentámos a Nigéria durante 56 anos, mas não aconteceu nada. Queremos algo novo", afirma em entrevista à DW África. Os seus apoiantes gostam de o ouvir.

Nigeria Biafra | Nnamdi Kanu
Nnamdi Kanu: "Tentámos a Nigéria durante 56 anos, mas não aconteceu nada"Foto: DW/K. Gänsler

Segundo o líder do movimento dos Povos Indígenas do Biafra, hoje em dia, os cristãos do sul têm medo de praticar a sua religião no norte. E, ao nível da economia, a situação não é melhor, diz: "Quem governa a Nigéria são sobretudo os Haússa e os Fulani, do norte. Eles não dão espaço ao desenvolvimento económico."

Críticas

Estas acusações graves contra as duas etnias irritam Mu'asu Said, oriundo de Jigawa e que vive hoje na capital, Abuja.

"Quando se vai para o norte, os Igbo podem fazer os seus negócios de forma pacífica. Ninguém os assedia, nem a nível regional, nem a nível local. Mesmo nas aldeias mais remotas, vivem pacificamente nas suas comunidades. As crianças vão para a escola… não há diferença nenhuma", diz. Para Said, é falso afirmar que os Igbo são marginalizados.

Nigeria Biafra | Kingsley Okah
Kingsley Okah: "Temos de lutar pelos nossos direitos. O Biafra é a solução."Foto: DW/K. Gänsler

"Luta intelectual"

Apesar das opiniões discordantes, uma coisa é clara para Kingsley Okah: "Não vou pegar em armas para lutar. O que precisamos mais na disputa pelo Biafra é uma luta intelectual. Pode-se despertar as consciências através de artigos em jornais. Quem sente que pode ajudar, pode organizar protestos nas ruas, mas sem recorrer a armas."

Não se sabe ao certo quantas pessoas apoiam realmente o Biafra, e, até agora, ninguém apresentou ideias ou um plano concreto sobre como a República se poderia organizar.