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PolíticaEstados Unidos

Biden terá impacto internacional positivo, diz investigador

9 de novembro de 2020

Eugénio Costa Almeida está confiante de que Biden voltará a consolidar os laços dos EUA com a Europa, o Médio Oriente e até com África. O investigador diz que os EUA deram uma lição de democracia à escala mundial.

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Foto: Angela Weiss/AFP/Getty Images

Apesar da recusa de Donald Trump em aceitar os resultados das eleições, o seu rival Joe Biden foi anunciado, este fim de semana, como o novo Presidente dos Estados Unidos. Foram muitas as nações que felicitaram já o candidato democrata que, preveem e esperam muitos analistas, poderá vir a facilitar algumas alianças globais, amplamente prejudicadas durante a governação de Trump.

Eugénio Costa Almeida, investigador angolano no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, está confiante de que Biden voltará a consolidar os laços dos EUA com a Europa, o Médio Oriente e até com África.

Apesar de Donald Trump ainda não ter aceitado a derrota, o investigador afirma à DW África que os EUA deram uma lição de democracia à escala mundial, ao terem conseguido o ato eleitoral mais participativo de sempre. Contudo, duvida que África "beba" do exemplo norte-americano.

Portugal Eugénio da Costa Almeid
Eugénio Costa Almeida, analista políticoFoto: DW/J. Carlos

DW África: Que impacto terá a eleição de Joe Biden no panorama internacional?

Eugénio Costa Almeida (EA): O impacto de certeza que será totalmente diferente daquele que foi consumado com a administração de Donald Trump. À partida, no caso da Europa e no caso da NATO o impacto poderá ser – e certamente será – positivo, porque haverá uma aproximação muito maior, será a chamada reunificação das democracias. No que toca ao Médio Oriente poderá haver também um impacto positivo na medida em que, apesar de Joe Biden ser um amigo muito forte de Israel, é também um defensor de, pelo menos, dois estados na área entre Israel e a Palestina. Consta-se até que ele prevê inclusivamente abrir um consulado dos Estados Unidos na chamada Jerusalém Oriental, que é reivindicada pela Palestina. Portanto, se ele fizer isso, de certa forma está a reverter um pouco a unificação de Jerusalém sob a tutela de Israel. Como [o primeiro-ministro israelita] Benjamin Netanyahu já tem problemas que cheguem internos, nomeadamente jurídicos, de certeza que não irá criar grandes conflitos pelo menos no imediato. Eu vejo que a situação aí também poderá ser um bocado calma.

DW África: No que toca a África, podemos esperar uma nova política?

EA: Não sei como é que vai ser, com toda a sinceridade, porque nos debates a política externa esteve sempre afastada dos comentários, das análises e das entrevistas. Portanto, tudo o que se possa falar é um pouco especulativo. Todavia, eu acredito que poderá haver alguma tentativa de manutenção de certos estados que já existem, certas estratégias criadas, algumas mesmo consolidadas durante a administração Trump. Acredito que ele [Biden] as vai manter. Tenho alguma expetativa para verificar como vai ser a questão da manutenção das forças armadas dos Estados Unidos em África, em particular na aliança AFRICOM.

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DW África: Que lições podemos tirar destas eleições e pós-eleições, com a recusa de Donald Trump em aceitar a derrota? Afinal, os Estados Unidos são um dos países que costuma dar "lições" de democracia aos países africanos...

EA: Os americanos sempre foram um pouco arredios ao voto. E este foi indiscutivelmente o ato eleitoral mais participativo de sempre. Essa é a primeira lição. Quando um povo sente que tem de dar algo ao país e que esse algo que tem de dar é através do voto, ele está presente. Não sei se haverá uma segunda lição, por uma razão muito simples: Donald Trump até agora ainda não aceitou a derrota e nesse aspeto está a ser assessorado por algumas pessoas que de certa forma me surpreendem, como o seu advogado. 

Quanto a África… Nós em África continuamos a pensar pelo nosso umbigo. Quando nos convém, abraçamos aquilo que nos pode ajudar, quando não nos convém, desprezamos. Portanto, se esta lição de democraticidade nos Estados Unidos é exemplar para o mundo, não sei se será muito exemplar para África quando se sabe que qualquer coisa serve para justificar manutenções de poder. A situação recente na Costa do Marfim com a eleição do Alassane Ouattara é a prova disso. Perante estes factos, eu não sei se o ato eleitoral dos Estados Unidos terá algum impacto no nosso continente. Por norma, os poderes instituídos em África navegam conforme as ondas que lhes convém.

DW África: Por outro lado, temos a eleição de Kamala Harris como a primeira mulher eleita vice-Presidente dos Estados Unidos. Poderá esta nomeação servir para que mais mulheres cheguem à Presidência nos países africanos? 

EA: Sim. Em África, pelo menos os primeiros Presidentes eleitos foram mulheres. Portanto, nesse aspeto nós em África não recebemos, digamos, imagens de terceiros. Mas é evidente que ajuda imenso o facto de a Sra. Kamala Harris ter sido eleita vice-Presidente e já estar a ser apontada como a candidata presidencial às eleições daqui a quatro anos, o que pressupõe que Joe Biden provavelmente, dada a idade, não se vai recandidatar. E se ela [Harris] tiver um desempenho exemplar como o de Biden teve enquanto vice-Presidente de Barack Obama, é muito possível que consiga mesmo aquilo que alguns setores dos Estados Unidos desejam há muito: ter a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos da América.  E isso eu diria que teria impacto em todo o mundo e em África em particular. Ainda que, repito, nós fomos os primeiros a dar o exemplo quando elegemos mulheres [Presidentes] na Libéria e também como chefes de Governo.

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