Bispos de Angola pedem "transparência" e "vontade política"
20 de outubro de 2016Os bispos católicos angolanos defendem um registo eleitoral claro nas eleições de 2017, para evitar "eleições suspeitas". Além disso, mostram-se também preocupados com a difícil situação económico-financeira no país. Outro problema que preocupa a Conferência episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) é a destruição do meio ambiente, assim como intolerância político-religiosa, praticada também por algumas seitas.
O porta-voz dos bispos angolanos, José Manuel Imbamba, bispo de Saurimo, deu ainda a conhecer os resultados da última reunião a CEAST, que terminou na quarta-feira (19.10).
DW África: O que a CEAST tem a dizer sobre a grave situação económico-financeira que assola os angolanos neste momento?
José Imbamba (J.I): Fruto dos relatórios que chegaram das diversas dioceses, chegamos à conclusão de alguns aspetos preocupantes, que têm a ver concretamente com a crise económica-financeira. Essa crise está a afetar profundamente as famílias mais desfavorecidas, porquanto o poder de compra está a ser comprometido por causa dessa oscilação financeira que nós estamos a viver.
DW África: Falando concretamente do processo eleitoral, o que é que a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé recomenda ao Governo no sentido de se evitar, digamos, suspeições em relação ao procedimento?
JI: O que nós recomendamos é mesmo lisura, transparência, vontade política para que tudo concorra para o bem, para que não haja prepotência, mas sim espírito de diálogo, de harmonia, para que todos possamos ir ao ato eleitoral com espírito de confiança, com espírito de alegria; para que as eleições sejam mesmo uma alegria democrática, e não o contrário. Por isso, há que haver muita humildade, muita capacidade de consertação, de diálogo, para que à partida ninguém vá com suspeições ao ato eleitoral.
DW África: Sabe-se que a CEAST também abordou um tema que preocupa cada vez mais a sociedade angolana, que é o tema da proteção do meio ambiente.
JI: Estamos a ameaçar o ambiente e também a ameaçar o futuro daqueles que virão depois de nós. Por isso apelamos para que esta exploração seja responsável, tendo em conta o que os efeitos nefastos podem acarretar para a vida coletiva. Estamos a assisitir a uma exploração muito vasta de madeira para fins industriais e isto está a preocupar-nos, além da prática da própria população com a queima de árvores para fazer carvão, a caça indiscriminada e todas as outras práticas que estão a afetar o meio ambiente, como os derrames de petróleo e as queimadas.
DW África: A CEAST tem também abordado a proliferação de seitas, um tema que preocupa não só Angola, mas também outras sociedades africanas. O que há a dizer sobre o assunto?
JI: O problema da intolerância política e religiosa vai-se manifestando aqui e acolá com a proliferação de seitas, que está a preocupar-nos, porquanto estão a ser acomodadas muitas seitas satânicas que estão a perigar a própria paz, o convívio harmonioso e a dignidade cultural nossa. Nós temos uma identidade e que está a ser afetada por práticas e ritos que não têm nada a ver connosco.
DW Áfirca: Há meios de comunicação social estrangeiros que dizem que em Angola o islão foi proíbido. Por outro lado, há organização islâmicas em Angola que dizem que a comunidade está cada vez maior. Como é que descreveria a relação dos angolanos, da Igreja Católica e do Governo angolano para com o islão?
JI: O que é facto é que o islão é já uma realidade em Angola. Embora seja uma instituição não reconhecida legalmente, eles já estão em Angola. As mesquitas em Luanda existem e em outras partes de Angola também. A comunidade islâmica está presente em vários ângulos e eles ocuparam grande parte do comércio precário do nosso país. Este é um facto que nós não podemos negar.
Nós, como Igreja Católica, não somos hostís à presença do islão no país, desde que se cinjam só a prestar culto a Deus, desde que não se imiscuam nos outros assuntos que têm a ver com os fundamentalismos, com a manipulação política e a manipulação das consciências para incitar a violência, o ódio, a rejeição, a discriminação, portanto, todos aqueles atos anti-humanos que nós não podemos consentir enquanto pessoas, enquanto cidadãos angolanos. Senão de outra forma, como Igreja Católica, nós acolhemo-los como irmãos, como pessoas que também têm o seu direito e o seu dever de prestar culto a Deus, mas sempre nos fundamentos do amor, do respeito e da dignidade da pessoa humana.
DW África: Os bispos de Angola procuram o diálogo com representantes da comunidade islâmica?
JI: Nós não temos nenhuma experiência nesse sentido. Como eu disse, o islão em Angola não é uma religião reconhecida oficialmente, por isso nunca houve nenhum contato neste sentido.