"É urgente realizar legislativas" para ter estabilidade
2 de fevereiro de 202211 pessoas morreram no ataque ao Palácio do Governo, na terça-feira (01.02). Segundo Fernando Vaz, porta-voz do Executivo da Guiné-Bissau, entre as vítimas estão sete militares e paramilitares, e três civis.
O "sacrifício dos jovens que morreram não foi em vão", assegurou Vaz esta quarta-feira (02.02).
A Assembleia Nacional Popular repudiou a "tentativa de subversão da ordem constitucional". A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) também condenou a violência.
"Em democracia, não há alternativa à ordem constitucional. Sendo assim, em circunstância alguma, na nossa perspetiva, os atos de violência devem servir para a resolução dos problemas políticos", frisou o vice-presidente da LGDH, Bubacar Turé.
24 horas depois, as autoridades estão a investigar o ataque, e há informações de que algumas pessoas se encontram detidas no Estado-Maior General das Forças Armadas, em Bissau, sem no entanto serem reveladas as suas identidades.
A LGDH saúda as investigações ao caso, mas apela às autoridades guineenses que observem "escrupulosamente os dispositivos legais no decurso das investigações, evitando assim comportamentos suscetíveis de configurar uma caça às bruxas".
Quem foram os atacantes?
Até agora, continua sem se saber quem terá estado por trás do ataque ao Palácio do Governo.
Esta quarta-feira, em declarações à imprensa, o porta-voz do Executivo não avançou detalhes sobre o assunto. Disse apenas que o ataque foi "planeado com rigor" e teria contado com apoios de "pessoas com capacidade financeira".
Na véspera, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, disse que os atacantes poderiam ser pessoas ligadas ao narcotráfico.
"Alguns elementos que estiveram envolvidos neste ato cobarde e bárbaro já estavam a ser investigados por indícios do narcotráfico. Ainda não há caras, porque havia uma mistura. Mas é uma coisa muito bem organizada e concertada. Não quero estar a avançar para não complicar a investigação em curso", disse Embaló.
Dúvidas persistem
O analista político Rui Landim não acredita na versão apresentada pelas autoridades.
"Parece uma história mal contada. Há aqui muita coisa por explicar", afirma Landim em declarações à DW África. "Primeiro, houve informações de que havia um cerco ao Palácio do Governo, mas a seguir não se ouviu mais nada. É uma montagem à procura de afastar toda a situação que se vivia desde o mês do outubro, com o caso do avião [Airbus 340, retido no aeroporto de Bissau] e o caso do [acordo de] petróleo [com o Senegal], que não foram esclarecidos."
O certo é que os acontecimentos de 1 de fevereiro ficarão registados na história da Guiné-Bissau como mais um capítulo da já conhecida instabilidade política do país.
Os acontecimentos tiveram lugar dias depois de uma remodelação governamental da iniciativa do Presidente da República, que não reuniu o consenso dos partidos que sustentam o Governo guineense.
Para o analista político Jamel Handem, só há uma solução para a atual situação no país: "É urgente realizar eleições legislativas, para que se acabe com esta geringonça que existe quer a nível do Governo, quer a nível do Parlamento. É necessário fazer eleições livres e justas, que reflitam os desejos do povo guineense."