Bissau: Frente Popular em silêncio sobre protesto de sábado
26 de julho de 2024Até ao início da noite de sexta-feira, não havia confirmação oficial da direção da Frente Popular sobre se a manifestação contra o Presidente Umaro Sissoco Embaló iria mesmo avançar.
Membros da organização reuniram-se de manhã com responsáveis do Ministério do Interior. Não foi divulgado o tema do encontro. A Frente Popular revelou, no entanto, que o ministério havia recusado pela segunda vez receber a carta da organização que informava sobre a realização do protesto, como manda a lei.
A DW tentou entrevistar os responsáveis da Frente Popular, mas o movimento da sociedade civil preferiu, para já, manter-se em silêncio.
Já a manifestação contrária, em apoio ao Presidente da República, deverá mesmo avançar.
A favor de "princípios autoritários"
"A marcha não será cancelada. Amanhã vamos sair às ruas porque este país pertence a todos nós", declarou Mama Samba Djau, que pertence à plataforma "Firkidja di Pubis", que organiza a marcha. "Se soubessem o valor da dimensão diplomática de Umaro Sissoco Embaló, estariam do lado dele", acrescentou.
A plataforma apela ao Ministério do Interior que garanta a segurança dos manifestantes.
Para o analista político Rui Jorge Semedo, a plataforma "Firkidja di Pubis" está a "prestar serviço a princípios autoritários", ao apoiar Sissoco Embaló.
"São estruturas sem identidade e sem convicção, que se colocam ao serviço do poder político num contexto onde o autoritarismo se tende a sobrepor a manifestações democráticas."
A DW tentou obter uma declaração do secretário de Estado da Ordem Pública da Guiné-Bissau, José Carlos Macedo Monteiro, sobre as manifestações de sábado, mas o governante rejeitou comentar o assunto.
Ameaças do Presidente da República
Recentemente, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, ameaçara que, caso o protesto da Frente Popular se concretizasse, este sábado, haveria uma "resposta adequada" contra os manifestantes em caso de "desordem".
"Podem ir fazer a desordem, mas garanto-vos que não existirá desordem neste país. Cada ato tem a sua resposta adequada. Mesmo para o doente, existe tratamento adequado. Podem vir, vão ver o Ministério do Interior", avisou.
O sociólogo Diamantino Domingos Lopes lembra que esses cidadãos têm todo o direito de manifestar num momento em que "o país não está visivelmente bem do ponto de vista social e político".
"É um direito sistematicamente violado no nosso contexto. Desde o início deste regime político, a sociedade foi impedida de exercer o direito de manifestação."
No primeiro protesto realizado pela Frente Popular, em 18 de maio, mais de 80 manifestantes foram detidos. Ativistas relataram ainda que foram torturados durante a detenção.
Diamantino Domingos Lopes teme que episódios semelhantes possam acontecer, este sábado, se o protesto da Frente Popular for para frente: "Há hipótese de a marcha ser cancelada considerando a experiência do passado, porque as autoridades usam este recurso de violência para reprimir os cidadãos e fazer com que tenham medo de exercer os seus direitos", alerta o sociólogo.