"Não podemos ter assassinos nas Forças Armadas", diz Sissoco
16 de novembro de 2022"Quero que as pessoas saibam que a cultura de violência não é a cultura de valentia. Fiquei com pena com o que aconteceu no dia 1 de fevereiro. Não porque Umaro Sissoco Embalo é Presidente da República ou Comandante Supremo (das Forças Armadas). Trata-se da Guiné-Bissau", afirmou Umaro Sissoco Embaló, que discursava na cerimónia de celebração do 48.º aniversário das Forças Armadas.
No passado dia 01 de fevereiro, homens armados atacaram a tiro o Palácio do Governo, numa altura em que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, se encontrava no local a presidir a uma reunião do Conselho de Ministros.
O chefe de Estado disse que estava convencido de que o último erro tinha sido o assassínio do Presidente João Bernardo "Nino" Vieira, morto em março de 2009 durante um ataque à sua residência em Bissau.
"Não pensava que poderíamos voltar a ter a cultura de tentar matar alguém que nem conheces, nem sabes de onde veio. Olham só os jovens que morreram naquele ataque", disse, referindo-se às vítimas mortais do ataque de 01 de fevereiro.
"Houve golpe em muitos países, as pessoas são tiradas do poder, mas nós não podemos ter assassinos nas nossas Forças Armadas", afirmou, salientando que quem "não tiver juízo" será expulso das Forças Armadas.
O Presidente disse também que um operacional é quem "demonstra bravura no campo de batalha" e "não quem mata pessoas deitadas na cama".
"Isso não é de homem. Se és mesmo um operacional avisa a pessoa que estás a chegar", disse, pedindo aos militares para se distanciarem dos políticos, porque o "poder é conquistado nas urnas".
Problemas étnicos
No discurso, Umaro Sissoco Embaló, que pertence à etnia fula, abordou também a questão étnica nas Forças Armadas, afirmando que é "mentira" que os balantas o queiram matar.
"Como há balantas que não prestam, assim existem fulas que não valem nada. Não foram todos os fulas que me apoiaram para ser Presidente da República. Estava ao meu lado Nuno Nabiam (primeiro-ministro guineense), ele é balanta", disse.
"Estão aqui muitos balantas que sempre me protegeram. Temos de acabar com esta expressão de que quem pensa que é valente é porque é balanta. Não criemos problemas entre as etnias da Guiné-Bissau", afirmou.
O Presidente guineense disse que a Guiné-Bissau precisa de unidade nacional, insistindo que a "cultura de violência, não pode ser a cultura do militar".
"Imaginem se no dia 01 de fevereiro o golpe tivesse sido consumado. Se tivessem tirado o Presidente e o Governo, onde é que o país estava hoje. Quer dizer que vamos fazer regredir o país mais 20 anos?", questionou Umaro Sissoco Embaló, lembrando que as Forças Armadas se devem subordinar ao poder político.
"Não aceitem ser utilizados por gente que quer o poder sem ser através das urnas. Penso que todos viram que a Guiné está a mudar", acrescentou o Presidente guineense.