Respostas de missão da OMS difíceis de "engolir"
7 de março de 2021O biólogo norte-americano, especializado em morcegos e em biologia evolutiva, Bret Weinstein, afirma numa em entrevista à Lusa, que há várias características no comportamento do SARS-CoV-2 que sugerem que a sua capacidade de infetar mais de 100 milhões em todo o mundo em menos de um ano pode não ter tido origem num processo natural de transmissão entre espécies.
"O vírus comportou-se de uma forma inesperada desde o princípio", afirma Bret Weinstein apontando que é altamente transmissível entre indivíduos e foi capaz de descobrir modos de infetar vários tecidos diferentes nos seres humanos, "mesmo aqueles que não contribuem para a sua capacidade de se transmitir entre portadores".
Bret Weinstein aponta, "aspetos difíceis de engolir" às respostas da missão de peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) que se deslocou a Wuhan, China, para averiguar as origens da pandemia de covid-19.
Atualmente professor convidado na universidade norte-americana de Princeton, Weinstein é um dos cientistas que defendem que deveria ter sido investigada desde o início da pandemia a possibilidade de ter tido origem num acidente laboratorial, exigência que ganha agora força nos meios académicos.
Missão de peritos da OMS em Wuhan
Falando sobre a missão, Weinstein aponta o que considera uma falha essencial: "A equipa da OMS disse especificamente que não estava mandatada para investigar no laboratório [do Instituto de Virologia de Wuhan] e que não estava equipada para o fazer".
No Instituto de Virologia de Wuhan, cidade do centro da China onde foram detetados os primeiros casos de infeção, realiza-se um tipo de investigação designado por "ganho de função", em que se aceleram capacidades de vírus recolhidos na natureza, aumentando a sua capacidade de se transferir entre espécies ou de contagiar mais facilmente.
Acesso total
Uma carta aberta subscrita por 24 cientistas internacionais divulgada na passada quinta-feira aponta como "essencial que todas as hipóteses sobre as origens da pandemia sejam examinadas e haja acesso total a todos os recursos sem olhar a sensibilidades políticas ou outras".
Uma das hipóteses que defendem, a mesma que Weinstein e outros cientistas sustentam há vários meses que seja considerada é, na expressão usada na carta aberta, "um acidente relacionado com investigação" científica.
Essa hipótese foi descartada pela missão da Organização Mundial da Saúde -- constituída por especialistas de 10 países, incluindo EUA, Reino Unido, Alemanha e Rússia - numa conferência de imprensa em Wuhan, em fevereiro.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus viria a retificar a situação, afirmando que "todas as hipóteses permaneciam em cima da mesa" para explicar a origem da pandemia, e anunciou que o relatório final seria divulgado em 15 de março.
Em vez disso, propuseram uma hipótese que Pequim também avançou, a de o vírus poder ter chegado a Wuhan em carne congelada de furões-texugo (animais próximos das doninhas que são criados e caçados para comer) oriunda da China ou noutro país asiático.
Falta de provas
"Essa história é difícil de engolir, porque se há algo que podemos dizer é que não temos provas de transmissão de carne congelada a seres humanos", sublinhou Bret Weinstein.
Segundo o biólogo, este vírus parece, sim, excelente a transmitir-se através de gotículas e partículas em aerossol.
"Portanto, esta história é, no mínimo, uma hipótese que precisa de provas e, no pior dos cenários, uma distração para nos impedir de investigar a possibilidade óbvia de este vírus estar em Wuhan porque estava presente no Instituto de Virologia", argumenta.
Bret Weinstein salienta que "se a pandemia foi desencadeada por uma fuga laboratorial, parece evidente que se tratou de um erro honesto, um erro grave, mas que resultou de pessoas honradas a tentarem fazer um trabalho que acreditavam ser necessário".
"Acho que nesta altura, este trabalho [em ganho de função] não devia estar a ser feito. É demasiado perigoso e é muito mais provável que desencadeemos uma pandemia do que a evitemos", considera.
"Neste caso, a probabilidade é que o vírus tenha sido melhorado para conseguir infetar melhor tecidos humanos e transmitir-se entre indivíduos para poder ser um modelo de epidemia zoonótica", admite.