Bolseiros angolanos em Cuba e na Rússia sem subsídios
8 de abril de 2016Não se sabe ao certo quantos são os bolsistas angolanos na Rússia que estão há oito meses sem receber os subsídios do Instituto Nacional de Gestão de Bolsa de Estudo (INABE) a que têm direito. Os gritos de socorro vêm também de Cuba, Portugal e outros países.
Para se fazerem ouvir, muitos foram os estudantes angolanos que utilizaram as redes sociais para darem a conhecer as dificuldades pelas quais estão a passar há quase um ano.
“Venho por este meio apelar à sociedade e aos órgãos competentes para que possam velar pela nossa situação, porque eu e os meus irmãos angolanos estamos sem os subsídios há oito meses”, pode ler-se numa mensagem de Whatsapp enviada por uma estudante angolana, atualmente em Moscovo. “Estamos a sofrer e as pessoas não têm noção disso. Senhor Adão do Nascimento, ministro do Ensino Superior, aqui na Europa de Leste não há emprego para negros, nem mesmo para varrer a rua. Por isso, peço que paguem, pelo menos, quatro meses”, pedia a estudante na publicação.
Devido aos atrasos no pagamento, os estudantes afirmam estar a passar por várias dificuldades nos países onde estão. Esta quinta-feira (07.04), os seus familiares dirigiram-se ao INABE para pedir satisfações sobre estes atrasos.
Antónica José, mãe de uma jovem angolana em Moscovo, considera que os atrasos no pagamento das bolsas de estudo não se justificam na época de crise que o país atravessa. “Nós sabemos que Angola tem dinheiro, que tem condições. Não temos culpa dos maus investimentos que o Presidente fez. Não vamos pagar pelos erros do Governo, porque os filhos deles vivem fora e vivem bem! Já nós, que somos filhos de camponeses, vivemos mal”, desabafou a encarregada de educação.
Pais não conseguem enviar dinheiro aos filhos
Segundo os pais destes estudantes, o INABE transfere os subsídios para as embaixadas que, por sua vez, fazem os depósitos nas contas dos bolseiros. No entanto, há oito meses que isto não acontece. Devido às burocracias nas instituições bancárias, os encarregados de educação não conseguem enviar dinheiro para o exterior, para fazer face às despesas dos filhos.
“Estão a passar fome. Somos obrigados a comprar dólares na rua, porque nos bancos não conseguimos comprar dólares nem fazer as transferências porque nos pedem uma série de documentos que não temos forma de conseguir”, afirma Georgina Vinança, mãe de uma jovem que está a estudar em Moscovo. “O INABE não nos dá os documentos para mandar dinheiro aos miúdos”.
O pai da jovem, João Pedro, afirma que “os bancos cancelaram todos os meios de transferência. Portanto, a nossa filha está lá, quase como uma refém”.
Georgina Vinança diz que prefere que a sua filha seja enviada de volta para casa. “Antes mandarem os nossos filhos de volta do que esperar que as meninas se comecem a prostituir ou que os meninos se metam em negócios de droga. Isso é crime”.A mãe de outra estudante de Moscovo, apela ao INABE para que interceda. “Nem no lixo podem comer. Não podem bater numa porta, porque eles chamam logo a polícia. Então, o nosso grito de socorro é para que o INABE olhe para aqueles jovens”.
Segundo os familiares dos bolseiros, a instituição continua a enviar novos candidatos para diferentes países do mundo para estudar, como afirma o pai de outro estudante. “É lastimável que continuem a enviar estes meninos. Com que objetivo? Para que eles sejam sacrificados como aqueles que já lá estão?”.
Convocados para falsa reunião
Esta quinta-feira (07.04), os encarregados de educação receberam uma mensagem nas redes sociais, com um convite para uma reunião com os responsáveis da instituição que gere as bolsas de estudo em Angola.
“Por volta das 10h, a diretora do INABE recebeu-nos, de forma arrogante, alegando que ignorava o motivo da nossa presença cá. [Disse-nos ainda] que ela não era a pessoa ideal para dar explicações em relação aos atrasos da bolsa de estudo”, conta Pedro João, pai de um estudante em Moscovo.
A direção do INABE, que alega não ter convocado o encontro desta quinta-feira com os encarregados de educação, não aceitou falar à imprensa. No entanto, a DW África teve acesso a uma gravação do curto encontro entre os encarregados de educação e uma dirigente do INABE.
“Não é verdade, os estudantes na Rússia não estão há oito meses sem receber os subsídios”, é possível ouvir na gravação. “Dada a conjuntura financeira, os bancos não têm divisas. Quando vocês as vão comprar, compram de forma individual; nós temos de comprar milhões”.