Botswana celebra independência em meio a críticas
30 de setembro de 2016O escritor e analista político Ndulamo Anthony Morima, que vive e trabalha na capital, Gaborone, diz que o 30 de setembro é um dia de regozijo para o Botswana: "Desde o início tivemos eleições livres e justas e uma democracia multipartidária. Os partidos da oposição nunca se tiveram que esconder. Também a Justiça é independente. Alguns juízes prinunciaram sentenças contrárias aos interesses do Governo em casos muito sensíveis - e o Governo aceitou-as."
A riqueza em matérias-primas, motor da corrupção em muitos países africanos, no Botswana beneficiou a população.
As receitas dos diamantes foram investidas no setor da saúde e na diversificação da economia. Em 2008, o ex-Presidente Festus Mogae recebeu o conceituado prémio Mo Ibrahim pelo seu empenho pela democracia e boa governação. Outros países africanos nem sempre reagem bem às convicções democráticas do Bostwana.
Os espinhos
Mas nem tudo são rosas: é verdade que os partidos da oposição podem agir em liberdade, mas são privados de fundos públicos. Os críticos apontam ainda a proximidade estrutural exagerada entre a Comissão Eleitoral e o Governo.
E a imprensa podia ser melhor protegida, diz o analista Morima, que sublinha a falta de uma lei sobre a liberdade de informação. Segundo ele, "tanto a sociedade civil como a oposição política querem uma rádio e televisão pública. As maiores emissoras pertencem ao Governo, de modo que há a preocupação que, em tempos de campanha eleitoral, a oposição tenha menos tempo de antena do que o Executivo".
Em 2014, ano de eleições, as críticas ao Presidente Ian Khama subiram de tom. Falou-se de atentados contra ativistas. Analistas vêem a boa imagem do país manchada pelo estilo autocrático do atual chefe de Estado. E há um outro assunto que é motivo de preocupação: O modo de vida estreitamente ligado à natureza da etnia dos san, também chamados de bosquímanos, está ameaçado, diz a Survival International.
Prémio "Racista do Ano" para o Presidente
A organização não-governamental de defesa dos povos indígenas acaba de atribuir ao Presidente Khama o prémio de "Racista do Ano", por considerar os san menos evoluídos e primitivos. Por detrás destas diatribes estão interesses económicos: O Tribunal Supremo reconheceu o direito deste povo a viver e caçar nas suas terras para sempre.
Mas o Executivo ignora esta sentença, diz Linda Poppe da Survival International: "O Governo alega que os san impedem uma proteção eficaz da natureza. O Botswana apresenta-se como um país muito virado para a ecologia, como forma de atrair turismo. Agora proibiu a caça em todo o país. Os bosquímanos estorvam e foram intimados a abandonar os seus territórios."
Nem toda a gente no Botswana terá pois motivos para celebrar.