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Brexit: Haverá saída para o impasse britânico?

Lusa | AFP | AP | rl
2 de abril de 2019

Governo britânico volta a discutir uma possível saída para o Brexit, depois que o Parlamento chumbou, pela segunda vez, todos os planos alternativos ao acordo negociado pela primeira-ministra com a União Europeia.

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Foto: picture-alliance/dpa/A. Franke

O Governo liderado pela primeira-ministra Theresa May reúne-se nesta terça-feira (02.04), em Londres, para avaliar o que vai fazer no processo do Brexit.

O encontro acontece na sequência da segunda sessão de "votos indicativos", na segunda-feira, que chumbou os quatro planos alternativos ao acordo negociado por May em Bruxelas – que já foi rejeitado três vezes.

Uma falta de consenso que deixa o Reino Unido numa situação delicada. É que se até ao próximo dia 12 de abril a Câmara dos Comuns não apresentar uma alternativa, poderá mesmo vir a abandonar o bloco sem um acordo.

Brexit: Haverá saída para o impasse britânico?

Mas este cenário de incerteza e pressão, dado o calendário, pode não ser negativo para todos. É o que diz o analista político Anand Menon. A falta de consenso no Parlamento pode vir a beneficiar Theresa May, diz.

"Não há dúvida que o resultado desta segunda-feira é bom para Theresa May. A primeira-ministra pode sentir-se encorajada a levar o seu acordo a votos pela quarta vez e dizer aos deputados que tiveram a oportunidade de decidir em duas votações e não decidiram nada. Por isso, terão de votar neste acordo porque senão não haverá acordo na próxima semana", argumenta Anand Menon.

Alternativas rejeitadas

Nesta que foi a segunda sessão de votos indicativos no Parlamento britânico, os deputados votaram em quatro resoluções: a negociação de uma união aduaneira permanente com a União Europeia, a permanência do Reio Unido no mercado comum europeu (Mercado Comum 2.0), a realização de um novo referendo a qualquer acordo aprovado ou a revogação do Brexit caso não haja acordo.

Mas, e pela segunda vez, nenhuma das propostas reuniu uma maioria. O que não quer dizer, defendeu o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, que isso não venha a acontecer numa terceira votação.

Segundo Corbyn, "se o acordo da primeira-ministra mereceu três votações, então eu sugiro que a Câmara dos Comuns deve ter a oportunidade de considerar outra vez as opções que estiveram em cima da mesa nesta segunda-feira, numa nova votação na quarta-feira".

Será caso para dizer que à terceira é de vez? O líder da oposição parece estar confiante, pois, nota, na votação desta segunda-feira, a opção referente à criação de uma união aduaneira, que o Partido Trabalhista apoiava, foi chumbada apenas por três votos (273 deputados votaram sim, 276 não, 89 abstenções). A opção de um segundo referendo até reuniu mais votos a favor, mas também mais votos contra (280 deputados votaram sim, 292 não, 66 abstenções). 

A renúncia espetacular de Nick Boles

O cancelamento do Brexit sem segundo referendo não reuniu consenso, pois faltou apoio dos líderes do Partido Trabalhista (191 deputados votaram sim, 292 não, 155 abstenções).

A proposta de um "mercado comum 2.0", portanto uma associação muito estreita do Reino Unido com a União Europeia como ela atualmente existe entre a Noruega e a UE, também alcançou maioria (261 deputados votaram sim, 282 não, 95 abstenções).

O promotor desta opção, o deputado conservador Nick Boles, culpou o seu próprio partido pela derrota: "O Partido Conservador é incapaz de assumir compromissos", declarou no seu discurso antes de anunciar a sua saída do grupo parlamentar e de literalmente cruzar a sala para se sentar na bancada oposta do lado da oposição. 

 

Eleições?

Entretanto, na reunião que o Governo pretende realizar nesta terça-feira, um dos temas em debate poderá ser a realização de eleições gerais, apontam alguns analistas.

Großbritannien London Philip Hammond, Stephen Barclay und Theresa May im Unterhaus
Ministro do Brexit, Stephen Barclay, falou no Parlamento esta segunda-feiraFoto: AFP/PRU

Em declarações aos jornalistas após a votação, o ministro da Saída da União Europeia, Stephen Barclay mostrou-se confiante que um consenso possa ser alcançado ainda esta semana – apesar de reconhecer o impasse.

"O Governo continua a acreditar que a melhor opção é encontrar um caminho que permita ao Reino Unido sair com um acordo. Se a Câmara dos Comuns aprovasse um acordo até ao final da semana, talvez fosse possível evitar realizar eleições para o Parlamento Europeu".

Uma opção que também poderia agradar ao bloco europeu, que já por várias vezes deu a entender que a paciência tem limites. Em declarações à imprensa, esta segunda-feira, antes da votação do Parlamento britânico, o presidente do Parlamento Europeu voltou a frisar que, agradando ou não a ambas as partes, mandam as regras da União Europeia. E que se o Reino Unido permanecer no bloco após 12 de abril, terá de participar nas eleições do Parlamento Europeu, agendadas para maio.

Aos jornalistas, Jean-Claude Juncker, disse ainda que "testemunhamos hoje a quarta votação sobre o Brexit, se contei bem... E ninguém sabe o que se segue. Sabemos o que o parlamento britânico não quer, mas ainda não o ouvimos dizer o que quer. Basta deste silêncio".

O negociador-chefe da União Europeia, Michel Barnier, alertou nesta terça-feira que "dia após dia, é mais provável" que o Reino Unido deixará o bloco na próxima semana sem um acordo de retirada ordenado.

A União Europeia agendou, para o próximo dia 10 de abril, um Conselho Europeu de emergência para avaliar a situação e decidir o que fazer.