Burkina Faso enfrenta novas incertezas após golpe de Estado
1 de outubro de 2022Uma calma inquietante permeou a capital Ouagadougou na manhã deste sábado (01.10). Soldados em veículos blindados guardavam o edifício da televisão nacional, mas o tráfego foi retomado lentamente nas estradas das artérias da cidade.
As lojas começaram lentamente a reabrir na cidade empoeirada onde tiros esta sexta-feira em torno do palácio presidencial culminaram no golpe de Estado, o segundo em oito meses.
Mais de uma dúzia de militares apareceram na televisão e rádio estatal, ao início da noite, para anunciar a destituição do Tenente-Coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba e a proclamação de Ibrahim Traore, de 34 anos.
"Decidimos assumir as nossas responsabilidades, movidos por um único ideal: a restauração da segurança e integridade do nosso território", afirmaram.
Com grande parte da região do Sahel a lutar contra uma crescente insurgência islâmica, a violência desencadeou uma série de golpes de Estado no Mali, Guiné Conacri e Chade desde 2020.
Em janeiro, Damiba assumiu a liderança do país de 16 milhões de habitantes após acusar o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore de não conseguir derrotar os jihadistas.
"Damiba falhou"
"Damiba falhou. Desde que chegou ao poder, as zonas que eram pacíficas foram atacadas. Assumiu o poder, mas depois traiu-nos", disse este sábado Habibata Rouamba, um comerciante e ativista.
O mesmo defendem os novos líderes militares.
"Longe de libertar os territórios ocupados, as áreas outrora pacíficas estão sob controle terrorista", sublinham.
Suspenderam a constituição, encerraram as fronteiras nacionais, dissolveram o Governo de transição e a assembleia legislativa e instituíram recolher obrigatório das 21 às 5 horas deste sábado.
O novo homem forte, Ibrahim Traore, é o antigo chefe da unidade de forças especiais anti-jihadistas na região norte de Kaya.
União Africana condena golpe de Estado
O presidente da Comissão da União Africana (UA) condenou hoje "de forma inequívoca" o golpe de Estado no Burkina Faso.
Em comunicado emitido da sede da UA na capital etíope de Adis Abeba, o presidente da Comissão, Moussa Faki Mahamat, expressou "profunda preocupação com o ressurgimento de mudanças inconstitucionais de Governo no Burkina Faso e noutros lugares do continente africano”.
Mahamat pediu às Forças Armadas do Burkina Faso que se abstenham "imediata e completamente de qualquer ato de violência ou ameaça” à população, às liberdades civis e aos direitos humanos.
O político chadiano também instou o exército a "garantir o cumprimento estrito dos prazos eleitorais para a restauração da ordem constitucional até 01 de julho de 2024”.
No comunicado, publicado pela UA na sua conta na rede social Twitter, o presidente reafirmou o "apoio contínuo da União Africana ao povo do Burkina Faso, para garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do país”.
Também a ONU pediu "calma" e que se evite o escalar da violência no país.
"Burkina Faso precisa de paz, precisa de estabilidade e precisa de unidade para combater grupos terroristas e redes criminosas que operam em zonas do país", sublinhou o porta-voz deste organismo, Stéphane Dujarric.
Dujarric salientou que o secretário-geral, António Guterres, está a acompanhar de perto os últimos desenvolvimentos e sublinhou que a ONU continua empenhada no objetivo de que o Burkina Faso recupere rapidamente a ordem constitucional.