Burundi acusa o Ruanda de apoiar rebeldes em seu território
3 de janeiro de 2024De acordo com o Burundi, o grupo RED-Tabara (Resistência para um Estado de Direito no Burundi) lançou um ataque a 22 de dezembro perto da fronteira com a República Democrática do Congo (RD Congo), matando 20 pessoas, incluindo mulheres e crianças.
Este atentado é apenas a ponta do icebergue, segundo a analista belga Colette Braeckman, que considera que a situação é ainda mais grave do se pensa: "Creio que este atentado é idêntico a outros perpetrados na região, e deve ser analisado num amplo contexto. É mais uma prova da deterioração da segurança na região."
Em resposta a estas acusações, num comunicado na rede social X (antigo Twitter), o RED-Tabara negou ter matado civis ou ser apoiado por um país estrangeiro.
A crise de confiança está a ressurgir apesar das iniciativas para reforçar os laços diplomáticos entre o Burundi e o Ruanda.
Com a chegada de Evariste Ndayishimiye ao poder em 2020, as fronteiras que estavam fechadas desde a crise de 2015 foram reabertas a 7 de março e as reuniões oficiais entre altos funcionários dos dois países aumentaram em Kigali e Bujumbura.
Tensões pode comprometer os esforços de paz
As relações entre o Burundi e o Ruanda têm sido frequentemente tumultuosas. Recentemente, Burundi enviou tropas para ajudar a combater os rebeldes M23 (Movimento 23 de Março) no leste da RDCongo.
Mas Pierrre-Claver Mbonimpa, um defensor dos direitos humanos do Burundi no exílio, acredita que este ressurgimento das tensões pode comprometer os esforços em curso: "É esse o nosso receio, porque se o Burundi começar a acusar o Ruanda, penso que as fronteiras voltarão a ser fechadas e ninguém ficará satisfeito com isso. Queremos que as relações diplomáticas em curso avancem numa direção positiva".
A RDC está a ser enfraquecida por esta instabilidade na região dos Grandes Lagos, especialmente na parte oriental deste vasto país centro-africano, onde vários grupos rebeldes estão ativos há várias décadas.
A solução está nas mãos das autoridades políticas", afirma Jakob Kerstan, da Fundação alemã Konrad Adenauer, em Kinshasa. A sua fundação, acrescenta, está a trabalhar para sensibilizar os jovens para a importância da paz e da segurança na região.
"Estamos a tentar facilitar os intercâmbios e os debates entre as iniciativas de jovens que existem nos países em causa. Pensamos que é útil para os jovens compreenderem-se melhor e aprenderem uns com os outros, por isso facilitamos estes intercâmbios", disse.
O RED-Tabara, o principal grupo armado que combate o regime liderado por Évariste Ndayishimiye, tem uma base na província de Kivu do Sul, no leste da RD Congo, e é atualmente o grupo rebelde mais ativo no Burundi, com uma força estimada entre 500 e 800 combatentes.