Burundi vai expulsar representantes da OMS
14 de maio de 2020Numa carta endereçada ao escritório africano da OMS, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burundi diz que "tem a honra de informar que as pessoas, cujos nomes estão listados abaixo, foram declaradas 'persona non grata' e que, portanto, devem deixar o território do Burundi antes de 15 de maio de 2020".
De acordo com a agência de notícias francesa AFP, trata-se de Walter Kazadi Mulombo, representante da OMS no Burundi, dois funcionários, Jean-Pierre Mulunda Nkata, coordenador da resposta ao novo coronavírus no país, e Ruhana Mirindi Bisimwa, chefe do programa de doenças transmissíveis, e o consultor, Daniel Tarzy, especialista em biologia molecular.
"É toda a equipa da OMS responsável pelo apoio ao Burundi na resposta à Covid-19. (...). Foram acusados de interferência inaceitável na gestão do coronavírus", explicou à AFP um funcionário do Burundi, sob anonimato.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burundi tinha iniciado o processo de expulsão dos quatro funcionários no mês passado, mas depois suspendeu-o após conversações entre o chefe de Estado Pierre Nkurunziza e o diretor-geral da OMS, segundo fontes diplomáticas e administrativas. Estas expulsões ocorrem alguns dias antes das eleições presidenciais e legislativas de 20 de maio.
Acusações contra o Governo
Entretanto, o Governo do Burundi é acusado pelos médicos e pela oposição de ocultar casos da Covid-19. Até agora, o país registou oficialmente apenas 27 casos positivos e uma morte.
O chefe do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong, classificou nesta quinta-feira (14.05) a ação do Burundi como "infeliz" e disse que quaisquer diferenças devem ser tratadas através do diálogo, em vez de ações que afetam a resposta à pandemia.
"Não temos o luxo de expulsar a OMS", disse Nkengasong a repórteres. "Esta guerra deve ser vencida de forma coordenada, e a coordenação é fundamental. Estamos em extrema necessidade de conhecimento. Incentivamos os países a fazerem a coisa certa''.
O Governo, que considera que o país está protegido da covid-19 pela "Graça Divina", decidiu fechar as fronteiras, mas não tomou medidas de contenção, ao contrário da maioria dos outros países da região.
Desde o início da campanha eleitoral, as reuniões políticas ocorreram normalmente e atraíram grandes multidões, sem que medidas reais de saúde fossem implementadas.