Cabinda: Continuam ameaças e perseguições a ativistas
2 de fevereiro de 2018Em dezembro passado, 28 ativistas pertencentes à Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH) em Cabinda foram detidos quando se preparavam para participar numa manifestação pacífica contra a violação dos direitos humanos no enclave. Na altura, à conversa com a DW África, o ativista Aarão Bula Tempo denunciou a violência da polícia contra os manifestantes. E, num comunicado divulgado pela associação, a polícia nacional foi acusada de torturar dois dos vários ativistas detidos – e libertados horas depois.
Mais de um mês após o sucedido, a situação está longe de estar resolvida. Ouvido pela DW África, Silvio Sumbo, dá conta que muitos dos ativistas pertencentes a esta associação têm estado a ser vigiados e ameaçados constantemente. Dois deles, afirma, foram mesmo "obrigados a fugir para os países vizinhos”.
"Eu e a minha esposa temos estado a ser constantemente ameaçados. Eles obrigaram a minha empresa a despedir-me e, neste momento, estou desempregado. Pessoas telefonam-nos e dizem que estão a acompanhar todos os nossos passos e que nos vamos arrepender. Dizem que estamos armados em revolucionários e ativistas e que vamos sentir na pele o que é opor-se contra eles. Tememos pelas nossas vidas”, conta o ativista cabinda.
Sem expectativas para JLo
Para Silvio Sumbo, a chegada de João Lourenço ao poder não traz qualquer esperança a Cabinda. Até pelo contrário. No seu entender, o Governo do novo Presidente acaba até por ser mais "perigoso” do que o de José Eduardo dos Santos. "A diferença que existe entre o regime atual e o regime cessante é que o regime do ex-Presidente dos Santos fazia mal à vista este faz no silêncio, como se nada se tivesse a passar. É um regime altamente ditatorial”, acusa.
O mesmo ativista nota que se quisesse mostrar uma governação diferente, João Lourenço, "que compactuou muito tempo com a má governação do MPLA - Movimento Popular para a Libertação de Angola -”, podia tê-lo feito aquando da repressão, quer desta manifestação em dezembro, quer do recente protesto organizado por estudantes em Luanda que foi também reprimido. "Tenho certeza absoluta que ele se apercebeu da repressão forte que houve na manifestação em Cabinda”, afirmou o ativista, acrescentando que se o novo Governo tivesse intenção de "optar por um novo paradigma de governação” devia ter agido. E não o fez. Ainda por cima mandou mais militares para intimidar a população”, constatou.
O mesmo se passa com as exonerações. Se "há vontade de mudar”, afirma o ativista, então João Lourenço devia "responsabilizar” os que exonerou pois são pessoas que "cometeram atos de corrupção fora do normal” e que continuam "a desfrutar do dinheiro”. Silvio Sumbo aponta ainda o dedo ao chefe de Estado no que toca ao caso Manuel Vicente: "Pôr em causa o interesse de um país em detrimento de uma pessoa que, durante o tempo que esteve no ativo como membro da administração pública cometeu erros graves a ponto de desviar tanto dinheiro? Dá para ver que ele [João Lourenço] não é sério e que vai seguir o mesmo pensamento de governação do seu antecessor”, dá conta.
"Temos que ficar calados?”
Fazendo notar que Cabinda "nunca está nos planos do regime do MPLA para grandes melhorias”, o ativista conclui afirmando que a solução para esta província angolana passa também por não ficar em silêncio. "90% da população está desempregada, a juventude vai perdendo a esperança e nós temos que ficar calados? Não pode. São eles que nos incutem na cabeça de que Cabinda não é Angola porque eu estou em crer de que se Cabinda fosse Angola, com os recursos que ostenta, pelo menos seria uma referência grande em Angola, mas não é porque não lhes interessa construir nada em Cabinda”.
São objetivos da Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos chamar a atenção para várias realidades de Cabinda. Entre as mais preocupantes estão a "presença excessiva de militares nas ruas de Cabinda que "intimidam a população”, assassinatos constantes de pessoas que se opõem ao regime angolano o elevado desemprego e a degradação” da província. A ADCDH tem lutado ainda para que o regime reconheça a associação.