Cabo Delgado: A quem servem as forças de elite moçambicanas?
28 de maio de 2024Os olhos estão agora postos sobre os 1.650 soldados moçambicanos de "elite" que, segundo relatos, foram bem preparados pela Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM-MOZ) nos últimos dois anos.
Estes soldados já combatem o terrorismo em Cabo Delgado. Contudo, João Feijó, da ONG Observatório do Meio Rural (OMR), afirma que o apoio militar externo eficaz acaba por não beneficiar quem realmente precisa.
Segundo o investigador, "é algo decidido por um grupo de indivíduos muito influenciados por interesses de grandes multinacionais extrativas que conseguem persuadir os Estados europeus a patrocinarem a formação de forças de segurança, visando mais a proteção desses investimentos do que a população".
"Há aqui um problema estrutural que reproduz o conflito", acrescenta.
Macomia novamente alvo dos terroristas
Exemplo disso é Macomia. Após um período de calma garantido pela missão militar (SAMIM) da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), o distrito voltou a ser um alvo preferencial dos insurgentes, especialmente desde maio, com a retirada das forças amigas prevista para julho. É costume permanecerem num à-vontade tal, em grupo numeroso, por terem consciência de que uma retaliação imediata é uma raridade.
Na avaliação do investigador Fernando Cardoso, o "vazio" deixado por essas forças da SAMIM tem sido compensado com as novas tropas treinadas nos últimos dois anos por militares europeus. "No entanto, os insurgentes aproveitaram-se desta retirada, que eliminou uma posição defensiva, para ocupar temporariamente" a área, ressalta Cardoso.
Dúvidas sobre a situação em Cabo Delgado
Os recentes ataques a Macomia e Ancuabe, por exemplo, lançam dúvidas sobre as declarações do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, que justificou a saída gradual das forças da SADC com a estabilização da província de Cabo Delgado.
Cardoso também está otimista quanto a melhorias no norte, mas baseia-se em variáveis externas.
"Eu creio que, com as operações do gás a iniciarem-se e com o novo Governo da Tanzânia a perceber que o piorar da situação em Cabo Delgado é péssimo para os seus objetivos de desenvolvimento, com as reservas de gás todas situadas no sul, perto da fronteira com aquela província moçambicana, creio que esta insurgência não tem muito mais tempo de vida, independentemente da situação que se vive em Moçambique, uma situação de extrema debilidade", conclui.