Cabo Delgado: "Ainda estamos a viver em tendas de plástico"
22 de setembro de 2022"Ainda estamos a viver em tendas de plástico". O pedido de ajuda chega sem rosto, em anonimato, por receio de represálias, mas é uma das muitas vozes dos deslocados de Cabo Delgado.
Pedem a construção de habitações condignas, porque as tendas atribuídas são pequenas e não possuem compartimentos para albergar rapazes e raparigas, nem fazem face ao tamanho do agregado familiar.
"Meu filho, de 22 anos, dorme comigo"
Em entrevista à DW África, um cidadão deslocado, juntamente com um agregado familiar de nove pessoas, descreve o cenário vivido nos últimos tempos.
"Estamos à espera da entrega de casa. É por isso que outros filhos não estão aqui. Como vê, o meu filho, de 22 anos, dorme comigo na mesma tenda e isso está errado", lamentou.
Este cidadão pediu ainda utensílios e produtos agrícolas - como pesticidas - para produzir couve, tomate, batata-reno e milho, com vista a melhorar a alimentação da família.
"Eu plantei milho, mas não tenho medicamentos para poder pulverizar, nem moto-bomba para irrigar. Essa machamba é pequena e eu preciso de quatro hectares de machamba, não consigo trabalhar", disse.
35 casas para reerguer as famílias
O administrador da capital provincial de Manica, Chimoio Daniel Andicene, disse que o Governo e parceiros de cooperação têm em vista a construção 35 casas ainda este ano, para igual número de deslocados.
"A pipeline fez uma casa e o Gabinete de Reconstrução Pós Ciclone está a avaliar se aprova o modelo ou não. Se for aprovado, arrancam de uma única vez as outras 34 casas e distribui-se pelos deslocados", assegurando ainda que as casas estarão "terminadas até ao final deste ano".
Simão Pedro também é deslocado de Cabo Delgado. No encontro que os deslocados mantiveram recentemente com a governadora de Manica, Francisca Tomás, o Simão fez-lhe um pedido.
"Pedimos que as casas que o Governo quer construir para nós sejam de acordo com o número de agregado familiar".
Francisca Tomás assegurou que os parceiros poderão construir as casas de acordo com o número de agregado familiar.
"Eu sei que Cabo Delgado constrói casas grandes. Mesmo que a família seja pequena, constrói-se casas grandes. Mediante a zona que for localizada para a construção das casas, vocês terão oportunidades de lá ir ver", disse Francisca Tomás.
A governadora de Manica garantiu ainda que os deslocados serão enquadrados no processo de construção das habitações e que serão "casas de resiliência e mista".