Cabo Delgado: Crianças deslocadas vítimas de abusos sexuais
5 de julho de 2022A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique denuncia o aumento de casos de casamentos precoces no país, dada a vulnerabilidade das crianças deslocados internas em Cabo Delgado. Elda Homo, responsável do departamento do Género, na PGR, não avança números, mas considera a situação preocupante.
"A situação de Cabo Delgado não é boa. As crianças estão sendo aliciadas por homens adultos, que deviam protegê-las. [Há] crianças que estão a ter relações com homens adultos em Cabo Delgado", disse.
Além destes abusos, segundo Elda Homo, muitas crianças encontram-se numa situação muito difícil: "O Ministério Público constatou situações de crianças sem acesso à escola, com uma assistência médica e medicamentosa deficiente, e muitas delas carecendo de acompanhamento psicológico. Estas crianças têm vivido dias tenebrosos, não dormem e tem estado a correr pela busca de segurança", disse.
Comunicação social tem cumprido o seu papel?
A magistrada lamenta o facto de estes casos estarem a ser pouco reportados pela imprensa. E numa formação recente com jornalistas, deixou um apelo: "Nós, como comunicadores, temos de reportar. Temos de ir a Cabo Delgado fazer o nosso trabalho", exortou.
Para travar estes problemas, Elda Homo revelou que a PGR já "realizou ações de sensibilização das famílias acolhedoras dos deslocados, para continuarem a prestar assistência aos menores e garantir uma sã convivência, atentos à sua condição especial".
A imprensa local afirma também estar preocupada com o abuso sexual e os casamentos precoces em Cabo Delgado. O jornal Ikweli é um dos órgãos que tem vindo a reportar situações do género.
Aunício da Silva, jornalista e diretor do jornal, contraria mesmo a PGR, salientando que as autoridades governamentais por vezes fazem um controlo cerrado nos centros de acolhimento dos deslocados e não facilitam o trabalho aos jornalistas.
"Os centros de acolhimento dos deslocados são muitas vezes vigiados e o trabalho dos jornalistas não é bem visto por parte das autoridades governamentais. Portanto, esta é a grande dificuldade que nós enfrentamos e isso contribui para a fraca cobertura", lamenta.
Autoridades não apoiam quem quer denunciar casos
Aunício da Silva acusa o Ministério Público de nada estar a fazer para garantir e facilitar o trabalho da imprensa.
"A própria PGR, sendo guardiã da legalidade, devia saber porque é que os jornalistas não têm acesso a essas zonas de conflitos e zonas de reassentamentos dos deslocados, e isto deve estar claro. Não há nada que nós possamos assumir para o envolvimento neste compromisso, estamos a fazer o nosso trabalho como órgãos de comunicação social e estamos lá a reportar com todas as dificuldades que nos impõem", disse o jornalista à DW África.