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Momade: "Governo não está a cumprir com a sua obrigação"

30 de agosto de 2020

Em entrevista à DW África, Ossufo Momade, o líder da RENAMO, defende que o país tem que saber o que se passa em Cabo Delgado e que as FDS são a única alternativa para combater os insurgentes.

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Mosambik: Ossufo Momade, Chef der größten Oppositionspartei RENAMO
Foto: Getty Images/A. Barbier

A insurgência em Cabo Delgado é um dos maiores problemas que Moçambique vive atualmente. A situação parece estar a fugir ao controlo das autoridades e a situação humanitária para os deslocados internos está a deteriorar-se.

A DW África conversou com o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) a este respeito.

Para Ossufo Momade, é preciso conhecer e mostrar o rosto daqueles que estão por trás dos ataques armados e informar os moçambicanos sobre o que se passa naquela província nortenha.

O líder do maior partido da oposição moçambicana considera "uma grande violação" a suposta contratação de mercenários sem a aprovação pela Assembleia da República e lembra que "apenas as Forças de Defesa e Segurança têm o direito de combater qualquer invasão".

Ao avaliar a situação em Cabo Delgado, Momade considera que "o Governo moçambicano não está a cumprir com a sua obrigação".

Cabo Delgado: "Governo não está a cumprir com a sua obrigação", dispara Momade

DW África: O que poderia ser feito de diferente para pôr fim aos ataques armados dos insurgentes, em Cabo Delgado?

Ossufo Momade (OM): É um pouco difícil. A situação em Cabo Delgado, primeiro, tinha de ter rostos. Nós temos serviços em Moçambique. Qual é o papel do SISE [Serviços de Informação e Segurança do Estado de Moçambique]? Porque os serviços não podem trabalhar para que tragam [a público] a verdadeira situação daquela zona do país? Porque nós não podemos combater um inimigo invisível, é preciso [conhecer] o rosto daquela situação. Mas, até aqui, não temos isso. E, muitas vezes, quando os jornalistas tentam dizer a veracidade daquilo que está a acontecer, são ameaçados, detidos e até desaparecem. Desaparecem!

Isso para dizer que é um pouco difícil. Se os moçambicanos não sabem a origem daquela situação, não é um estrangeiro que vai poder trazer o resultado ou uma solução para aquilo que está a acontecer em Cabo Delgado. Poucas vezes temos informação em relação àquilo que está a acontecer. Muitas vezes, quando aparece alguma informação, é através de um aldeão, de um cidadão que fugiu de lá. Hoje temos centenas de deslocados. Mas, antes, diziam que a situação estava controlada.

Neste momento, temos acompanhado que as Forças de Defesa e Segurança abateram tantos, números exagerados. Mas o que queremos não são os números, queremos uma solução que traga um bom ambiente para que as pessoas voltem para as suas aldeias, os seus distritos, as suas vilas. Que ninguém apareça a fugir numa noite, porque alguém veio atacar. Só isso que queremos.

DW África: Ossufo Momade é general?

OM: Sim, sim.

Mosambik Flüchtlinge vor Angriffen in Cabo Delgado in Metuge untergebracht (DW/D. Anacleto )
Deslocados internos devido aos ataques armados em Cabo DelgadoFoto: DW

DW África: Acha que se justifica esse secretismo das autoridades moçambicanas em volta do assunto em Cabo Delgado, em nome dos interesses maiores do Estado moçambicano?

OM: Não é um assunto que podia ser deixado para trás, porque temos a Assembleia da República. Por exemplo, temos acompanhado que há mercenários a vir da África do Sul, da outra vez foram russos. Mas, tudo isso que está a acontecer, a Assembleia da República não está informada. Mas todos esses mercenários são pagos com dinheiro do erário público. Onde é que eles buscam esse dinheiro? A quem informam para que possam pagar aqueles mercenários? Isso é uma grande violação. Porque os mercenários têm o direito de saber daquilo que está a acontecer em Cabo Delgado e os moçambicanos não podem saber?

Se é uma situação que inquieta o país, que inquieta uma parte do país, é preciso que os moçambicanos sejam informados. Não há nada que possa ser escondido, porque o país tem que saber, tem que ser informado em relação àquilo que está a acontecer em Cabo Delgado. Mas nós acompanhamos aos pedaços. Depois [do surgimento] de muitos deslocados, hoje, o regime já está a assumir que há uma situação.

Por exemplo, acompanhamos que Mocímboa da Praia foi de novo ocupada. Mas, oficialmente, não temos conhecimento. Ninguém veio a público informar. Foi através das vias não oficiais.

Para dizer que isso não constitui uma prática militar. Pensamos que o Governo não está a cumprir com aquilo que é a sua obrigação.

DW África: Como a RENAMO pode apoiar o Governo para ultrapassar essa situação?

OM: Nós começamos, desde há muito tempo até, a apoiar através de ideias. O apoio que a gente dá, não é para pegarem nas armas. É de dizer, vamos informar a população daquilo que está a acontecer. Os serviços devem trabalhar no sentido de encontrar os rostos para que o Governo possa saber quem é que está à nossa frente, quem é que está a criar um mau ambiente. É o que estamos a fazer, dar ideias. Porque, se eu disser: "vamos apoiar e temos de enviar para lá as forças da RENAMO", estamos a contrariar e a violar a Constituição da República.

Quem tem o direito de combater qualquer invasão são as Forças de Defesa e Segurança.

DW África: Já são mais de 250 mil os deslocados que vivem em situação difícil, no norte de Moçambique. A RENAMO tem como apoiar essas pessoas, de alguma maneira?

OM: A RENAMO está a apoiar moralmente. Sabe, não é fácil, como partido, apoiar de forma a levar os bens essenciais, porque nós também não temos capacidade. Mas, mobilizamos os nossos irmãos em Cabo Delgado e Nampula para que possam fazer alguma coisa. Convidamos os agentes económicos para que possam fazer alguma coisa. Porque são os nossos compatriotas que estão a sofrer e que abandonaram os seus bens, abandonaram as suas aldeias, que hoje estão mais necessitados. E o regime não tem capacidade nem de colocar lá uma tenda, nem de colocar lá comida. Então, o nosso apoio é moral. O nosso apoio é dizer que, aquele que tem, é bom que apoie os nossos compatriotas.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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